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Mergulhadores exploram o fundo dos rios Tietê e Pinheiros, em SP
Equipe faz 3 mergulhos semanais a trabalho e já esbarrou em cadáveres e dólares
FERNANDO MASINI
DA REVISTA DA FOLHA
O subsolo de São Paulo abriga uma parafernália vital ao
funcionamento da cidade. Está
tudo enterrado ali: o gás que
consumimos,parte do sistema
elétricoe as redes de fibra ótica
e de saneamento. São as "veias"
de um "organismo" chamado
cidade. Para obter um retrato
menos técnico do subsolo, a reportagem foi a lugares invisíveis à maioria das pessoas.
Dos indivíduos que se metem
nas profundezas de São Paulo
para ganhar a vida está o mergulhador José Leonídio Santos,
42. Ao longo de 20 anos como
mergulhador de risco, ele e sua
equipe -que fazem em média
três mergulhos semanais nas
águas dos rios Tietê e Pinheiros, para manutenção de redes
e outros serviços- já esbarraram em cadáveres e dólares.
"O Tietê é sempre uma surpresa", diz o mergulhador Pedro Ascobar, 27. A equipe já esbarrou em animais mortos, como uma sucuri de cinco metros, além de corpos humanos.
"Estava tateando o fundo [do
rio] e senti um pé", lembra Leonídio. Eram os restos de uma
jovem, esquartejada em 1990.
Bem mais agradável foi encontrar uma bolsa cheia de dólares, como aconteceu em 1988.
"Havia US$ 2.000", conta Leonídio. O dono nunca foi achado.
O montante ficou com a empresa que contratou o serviço.
Mergulhar ao longo das marginais é um acontecimento. A
roupa de PVC e o capacete, que
lembram um astronauta, servem para afastar o mau cheiro.
O mergulho cego chega a oito
metros de profundidade no
Tietê. A equipe usa o tato, já
que é impossível ver nas águas
turvas. Os mergulhos mais profundos, no entanto, ocorrem
em ambientes mais inóspitos.
O "recorde" da equipe na cidade foi em um tanque de 30 m
cheio de lama bentonítica, uma
mistura de água e rocha vulcânica usada em fundações de
grandes obras. Eles, que não colocam o pé na água por menos
de R$ 3.000, foram contratados
para retirar uma peça de ferro,
numa obra de um hotel no centro de São Paulo.
Todas as operações são
acompanhadas por um monitor, de onde se vê a localização
do mergulhador. Erros são fatais, e o medo, uma constante.
"Se pensar, não mergulha", diz
Leonídio.
A estrutura debaixo da metrópole é imensa. Muitas vias se
entrelaçam. Apesar de haver,
na teoria, a separação por camadas segundo a altura de cada
serviço prestado, não é raro as
conexões se esbarrarem.
O espaço muitas vezes é ocupado por carcaças inoperantes.
"Quando fizeram uma perfuração na av. Brigadeiro Luís Antônio, encontraram antigos trilhos de trem", diz Ruy Villani,
diretor do Convias, órgão municipal que cuida da infra-estrutura da cidade.
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