São Paulo, terça-feira, 31 de agosto de 2010

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JAIRO MARQUES

Tarados por elevador


Deve ser mais cômodo do que encarar escadas rolantes, que são arejadas e ninguém fica preso nelas

O JOGO ERA DURO. Na disputa, estávamos eu a bordo da cadeira vermelha, uma mãe pilotando um carrinho de bebê e uma senhora miudinha aparentando uns 70 anos. A missão era conseguir espaço na próxima passagem do disputadíssimo elevador do centro de compras.
Quando a porta da almejada condução se abriu, dei vantagem para as minhas "adversárias" avançarem, mas quem ganhou o exíguo espaço disponível foi mesmo um desses garotões que tem mais músculo do que geladeira da casa de pobre. O cabra não titubeou, driblou pela lateral e deixou nós três para trás com cara de "affmaria".
Fico impressionado com a tara de algumas pessoas por usar o elevador. De fato, deve ser mais cômodo que encarar escadas rolantes -que são arejadas e ninguém fica preso nelas, mas tem gente que dá uma exagerada no medo de perder a viagem.
Eu bem queria poder subir os degraus que se movimentam dando tchauzinho para a galera, mas, para encará-los sobre rodas ou tendo limitação de mobilidade, é prática radical demais e segura de menos para quem aprecia os dentes que restam na boca.

São cômicas as situações em que a caixona de sobe e desce já chega lotada no andar em que um cadeirante ou idoso aguarda para entrar. O povo começa a se espremer, olhar para o alto, cantarolar "Come together right now over me", mas quase ninguém cede o lugar.
Semana passada, eu "viajava" do subsolo até o terceiro andar com um senhor que, pelas vestimentas, iria malhar na academia do shopping. Como sempre acontece, devido à lotação, quando entrei, não consegui girar a cadeira para me acomodar e facilitar na hora de sair, logo, fiquei de cara para a parede.
Quando o caixotão -que tinha até "motorista"- parou no andar em que o marombeiro desceria, ele entrou em desespero: "Vou descer aqui! Dá espaço que preciso sair!", dizia enquanto me empurrava para fora. Ainda bem que o ascensorista o acalmou dizendo que não costumava esmagar passageiros na porta, ufa!
Outro lance que me deixa bege: no térreo, aquele amontoado de gente querendo subir. Chega a condução e o primeiro que entra é aquele moço cheiroso igual a filho de barbeiro. Além de não segurar a porta para ninguém, ele aperta o primeiro andar. Ah, vá. Tinham de proibir quem pode subir escadas de usar elevador para subir um lance apenas.

 

Eles já foram esculhambados, mas não posso deixar de também dar o meu troféu de "ridiculable" para o ninho dos urubuzões de aço de Guarulhos e Congonhas. Para um cadeirante usar esses aeroportos, é preciso encher o saco de Jó pedindo paciência. Devido à falta de estrutura, de organização e de investimento, a retirada da "carga pesada" aqui de uma aeronave pode demorar até uma hora. É de chorar pelado.
A nota "maraviwondefurl" vai para ação do Itaú-Unibanco, que vai contratar mil funcionários com deficiência em todas as suas áreas, inclusive para cargos estratégicos.
A instituição já possui em seus quadros 4.000 pessoas que puxam cachorro, andam de cadeira de rodas, têm o escutador de novela prejudicado etc. Banqueiros continuam não rasgando dinheiro. Mais no blog.

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