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MARILENE FELINTO
Vencedor, PT será massacrado pela mídia
Não é preciso ser cientista político -essa profissão
agora tão em moda na celebrada
"democracia" brasileira- para
saber que o esquecimento do
mundo é ideologia, como disse
um estudioso francês cujo nome
me foge no momento. É ideologia
pois que constrói um outro mundo, é ideologia porque atrai a
atenção para o anódino (secundário), desviando-a do resto que
interessa.
No tratamento que a mídia
brasileira dá à política, isso é bastante evidente. A mídia -a impressa e a televisiva- prefere os
candidatos populistas, folclóricos
no seu jeito personalista, coronelesco e patriarcal de tratar os adversários e a coisa pública. Os populistas -que vivem de insuflar
mentiras, factóides, piadas espirituosas- dão mais temperatura
às "notícias", mais audiência,
vendem mais jornal e revista.
Não faltam exemplos. Na cobertura dessa última eleição, o candidato derrotado à Prefeitura de
São Paulo, Paulo Maluf (PPB), foi
poupado até mesmo da mais
comprovada de suas atuações de
conduta escusa: seus vínculos (diretos ou indiretos) com a bancada
pepebista da Câmara, aliada à
máfia da propina e ao desastroso
prefeito Celso Pitta.
Só se falava no "renascimento"
malufista, na "força" do voto
oculto ao malufismo etc. Muito
pouco se dizia sobre as manchas
do passado (do mais remoto ao
mais recente) de Maluf, um dos
nomes mais associados à desonestidade, à corrupção e ao atraso
político.
Parte do esquecimento é a mídia que promove. Em nome de
um "pluralismo" de visões pouco
convincente, passa-se uma borracha nos fatos, nas associações de
fatos, na história de certas personalidades políticas, dando a estas
mais importância do que elas
realmente têm, forçando sua permanência na cena pública com o
único objetivo de aquecer o mercado da notícia.
Exemplo claro disso é o senador
Antonio Carlos Magalhães (PFL),
transformado em "vitorioso" na
mídia por ter eleito quase todos os
prefeitos da Bahia, inclusive o de
Salvador. Uma vitória apenas local, típica de caciques políticos
formados pela ditadura, que comandam seu território na base do
favor, inexpressiva quando considerada dentro do contexto de vitórias da esquerda (do PT e do
PSB por exemplo), que conquistou a maioria das capitais importantes.
Em contrapartida aos confetes
atirados sobre o senador ACM,
abordou-se apenas timidamente
a fragorosa derrota de seu partido
e aliados -o mesmo PFL de Roberto Magalhães, derrotado em
Recife pelo PT, e de Luiz Paulo
Conde, derrotado no Rio de Janeiro por Cesar Maia (PTB).
Com o PT no poder em escala
nacional, vai ser diferente. A perseguição será implacável (a não
ser que eu esteja muito enganada). Há uma antiga antipatia da
mídia para com o PT e sua origem nos movimentos populares
-tido sempre como "baderneiros", "utópicos" e irresponsáveis.
Os únicos movimentos que a mídia não trata com desdém são
aqueles de origem estudantil
-exatamente porque os filhos da
elite atuaram ou atuam neles.
No mais, entre o PT e a mídia,
tudo é incompatibilidade essencial. Há uma espécie de aposta
implícita para que o antes atirador de pedras vire vidraça estilhaçada. Os "calunistas" de plantão
já tomaram seus lugares, a imprensa está cheia de mau-caráter
oportunista. O PT tem dezenas de
defeitos, entre eles um viés autoritário irritante. Será um embate
inesquecível.
E-mail: mfelinto@uol.com.br
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