|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PATRIMÔNIO
Especialista afirma que além dos dez imóveis que já passam pelo processo, cidade possui outros ainda ignorados
Nova casa bandeirista é descoberta em SP
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
"Pode vir, não precisa ter medo", avisa Arcílio Reimberg, 64,
enquanto corta, com o facão, algumas folhagens que dificultam o
caminho até a casa rosada. De um
tronco podre, recém pisado, fogem inúmeros formigões. A terra,
ainda úmida da chuva, convida ao
tombo -o jeito é se apoiar nas árvores que dominam o entorno:
ipês, bananeiras, eucaliptos. Enfim, o pé alcança a base da residência onde Arcílio passou a
maior parte de sua infância. E que
também é a décima casa bandeirista a entrar em processo de tombamento em São Paulo.
O imóvel foi descoberto pela arqueóloga Lúcia Giuliani, da Secretaria Municipal do Verde e do
Meio Ambiente, durante uma
pesquisa socioambiental feita pela prefeitura para a implementação da APA (Área de Proteção
Ambiental) da península do Bororé, na margem da represa Billings (zona sul de São Paulo).
A equipe da secretaria chegou
ao local no fim de 2003, por indicação de moradores da região. Na
vizinhança, a casa velha e parcialmente demolida já havia ganho
até fama de mal-assombrada,
conta Cacilda Eposito, 42, cuja família é proprietária do imóvel.
O local, usado para o veraneio
dos Epositos, foi gradativamente
abandonado após 1986, quando o
pai de Cacilda adoeceu. "Não tínhamos condições de reformá-la", diz. A família também não tinha noção do valor do imóvel.
Segundo Giuliani, a casa foi
construída, no máximo, no fim
do século 17. Ela é feita de taipa de
pilão -técnica em que a terra é
comprimida, com pilões, dentro
de uma fôrma de madeira- e algumas de suas paredes têm mais
de 60 centímetros de espessura.
Apesar da idade e dos anos de
abandono, parte da casa está bem
conservada e o imóvel é passível
de recuperação. Segundo Giuliani, a meta é realizar o processo de
restauro em parceria com a comunidade da região, como forma
de estimular a educação patrimonial. O imóvel está em processo de
tombamento no Conpresp (conselho municipal de preservação
do patrimônio histórico).
Para a arqueóloga, uma das
vantagens dessa casa em relação
às demais já identificadas na capital é que ela permanece na zona
rural da cidade. Por isso, o entorno dela -que, na infância de Arcílio Reimberg, era um pasto
cheio de vacas e, hoje, está tomado pela vegetação- pode ser
uma rica fonte de pesquisa arqueológica.
O aposto "bandeirista" vem do
fato de que a casa é do mesmo período em que os bandeirantes
desbravavam a região em busca
de índios e metais preciosos.
No decorrer dessas viagens, os
bandeirantes paravam para descansar nas sedes das fazendas. Isso levou a algumas características
específicas das casas dessa época,
como a construção de um quarto
específico para hóspedes, sem
acesso à área íntima da residência.
A capela, muitas vezes, também
possuía uma passagem direta para a casa, para evitar que as mulheres fossem molestadas pelos
visitantes, diz Helena Saia, uma
das mais respeitadas arquitetas
do país em restauro histórico e filha de Luís Saia, estudioso das formas de habitação paulistas. Para
ela, ainda há muitas casas bandeiristas a serem descobertas. "Com
pesquisas sistemáticas, encontraríamos muito mais coisas."
Texto Anterior: Há 50 anos: Rearmamento alemão preocupa Próximo Texto: Prefeitura prevê centro de cultura alemã no imóvel Índice
|