São Paulo, terça-feira, 31 de outubro de 2006

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Governo limita vôos e chama aposentados

Com a operação-padrão dos controladores, Aeronáutica suspendeu vôos de jatinhos e aviões particulares nos horários de pico

Restrição a aeronaves pequenas será mantida até o dia 28; ministro da Defesa disse que reservistas podem ajudar nos trabalhos


Marlene Bergamo/Folha Imagem
Jatinho sobrevoa Congonhas; aeronaves do mesmo tipo foram proibidas nos horários de pico


IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A operação-padrão deflagrada pelos controladores de tráfego aéreo em Brasília -que provoca atrasos e suspensão de vôos no país- forçou o governo a tomar duas medidas: a Aeronáutica suspendeu o vôo de aviões não regulares, como jatos e particulares, nos horários de pico em parte do país, e o ministro da Defesa, Waldir Pires, "convidou" controladores aposentados a auxiliar nos radares.
O movimento, iniciado na semana passada, continuou ontem: no final da tarde, oito aeroportos do país tiveram atrasos de mais de duas horas nos pousos e decolagens.
Para tentar minimizar a crise, a Aeronáutica elaborou uma Notam (Notice to Airmen, algo como aviso aos pilotos). Distribuída ontem às empresas de táxi-aéreo, a norma proíbe o vôo de aeronaves não regulares das 7h30 às 12h e das 17h às 20h. Vôos charter (fretados) serão analisados caso a caso. A medida vale até o próximo dia 28.
A interdição se refere ao espaço aéreo compreendido por parte de São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais, do Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Durante o dia, porém, os atrasos em Brasília indicavam que a medida não surtiu efeito. A Aeronáutica tampouco sabia quantos vôos deixaram de ser feitos após a proibição.
No final da tarde, os aeroportos de São Paulo, Rio, Vitória e Belo Horizonte entraram em "rodízio" nas decolagens, causando novos atrasos. Pires e o comandante da Aeronáutica, Luiz Carlos Bueno, decidiram então convidar controladores da reserva. Eles ajudariam na operação do radar em Brasília, já que o processo de formação de um controlador é longo, cerca de quatro anos. Em entrevista, Pires disse que os aposentados seriam remunerados pelo serviço, mas não deu detalhes.
Apesar das medidas, o ministro insiste em negar o protesto dos operadores de vôo.
A Abag (Associação Brasileira de Aviação Geral) considerou a Notam um golpe na indústria. "Seria melhor informarem logo que decidiram politicamente acabar com a aviação executiva", disse Adalberto Febeliano, vice-presidente-executivo da entidade. Só a TAM Marília Táxi-Aéreo estimou prejuízo mensal de R$ 1,5 milhão com a medida. O Brasil tem a segunda maior frota de jatos executivos do mundo.
A crise ocorre um mês após a maior tragédia da aviação brasileira, quando 154 pessoas morreram na queda de um Boeing-737/800 da Gol. A aeronave colidiu com um jato executivo da Embraer. Uma das hipóteses investigadas é de falha dos controladores de vôo.
A delicada situação do controle de tráfego aéreo adquiriu contornos mais fortes na semana passada, quando os operadores de radar resolveram elevar a distância entre os aviões e reduziram o número de aeronaves vigiadas por controladores, para evitar acidentes.
Por conta disso, os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Pires se reuniram com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), a Infraero (estatal que administra os aeroportos) e com o Comando da Aeronáutica. No encontro, o diagnóstico do governo indicava excessiva presença de pequenos aviões pousando e decolando de Brasília, o que exigia atrasos de outros vôos para não prejudicar a monitoração por radar.
Além do protesto dos operadores, o governo avalia que o problema nos aeroportos se deve também ao afastamento dos operadores que estavam trabalhando em Brasília no dia do acidente da Gol e ao excesso de pequenos aviões. Ontem, seis outros controladores iniciaram em Brasília o período de adaptação ao radar e devem assumir as funções nos próximos dias.


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