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Marta promete limpeza da sujeira e da corrupção
Juan Esteves/Folha Imagem
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Marta Suplicy durante entrevista no escritório de transição; a prefeita eleita diz que não pretende ficar trancada em seu gabinete |
Prefeita eleita diz que marca de seu governo será o combate à exclusão social e que o processo de escolha das empresas de coleta de lixo, que foram as principais financiadoras de sua campanha, será transparente
NILSON DE OLIVEIRA
EDITOR DE COTIDIANO
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
A prefeita eleita de São Paulo,
Marta Suplicy (PT), 55, que toma
posse amanhã, estará empenhada, nos primeiros dias de sua gestão, em limpar a cidade da sujeira
nas ruas e paredes de prédios públicos e da corrupção.
Trajando um vestido longo vermelho e echarpe de oncinha, disse
que, para isso, não hesitará em pegar a vassoura para dar o exemplo
à população paulistana.
Anteontem, em entrevista à Folha, afirmou que não pretende ficar trancada em seu gabinete. Na
terça-feira, por exemplo, fará um
almoço com moradores de rua;
depois pretende ir uma vez por
semana até as administrações regionais e visitar os locais mais pobres, além de almoçar no bairro.
A futura prefeita disse ainda que
espera obter verbas com o combate ao desperdício e à corrupção.
Folha - Quais serão as primeiras
atitudes da senhora sentada na cadeira de prefeita?
Marta Suplicy - Dia 1º vou fazer
um discurso que espero que tenha
um conteúdo que vai balizar tudo
que pretendemos fazer neste governo. O primeiro ato que acho
importante, fora a posse, será no
dia 2, no Pátio do Colégio, e que
vai simbolizar um governo voltado ao combate à exclusão social.
Vai ser a regulamentação de um
projeto da (vereadora) Aldaíza
Sposati (PT) para o povo da rua.
Vai ser um almoço. A outra questão vital é o combate à corrupção
e ao desperdício da coisa pública.
Folha - Como vai ser esse combate à corrupção?
Marta - Cada secretaria está levantando coisas específicas. Contratos terão de ser revistos, como
na Cohab e no Abastecimento. O
Jilmar Tatto (futuro secretário do
Abastecimento) avaliou que a lata
de leite no Leve-Leite custa três
vezes mais do que produto em saco plástico. Hoje, o Leve-Leite
custa 60% da merenda das crianças. Quando diminuir mais de um
terço no valor da lata, sobra mais
dinheiro para uma merenda adequada. Esse tipo de ação é que estamos vendo em todas as pastas.
Folha - A senhora pretende reduzir a participação do Leve-Leite na
merenda escolar, uma vez que a senhora mesma disse que ocupa 60%
da merenda?
Marta - Não. Vamos manter a
mesma quantidade de crianças
que levam o leite, mas o custo,
sem a lata, é menor. Esse dinheiro
vai continuar na merenda. Vamos
acrescentar suco de laranja fresca
e achocolatado no lanche, além de
um alimento melhor.
Folha - E é nesse combate à corrupção que a senhora espera mais
verbas para poder tocar a prefeitura, uma vez que os próprios técnicos do PT vêm dizendo que a situação é sombria?
Marta - A perspectiva não é diferente do que falamos na campanha inteira, e o cidadão já sabe. A
prefeitura está falida, e o dinheiro
não foi utilizado para coisas concretas. Vamos lidar com a expectativa que foi gerada na campanha de que a cidade deve combater a corrupção e que volte a ter as
prioridades corretas, que são saúde, educação e qualidade de vida,
com menos poluição visual e mais
limpeza, que é o que poderemos
fazer neste primeiro momento.
Folha - As empreiteiras de lixo foram doadoras de sua campanha. A
senhora tem dito que isso não significa favorecimento. Quem pode
garantir?
Marta - Mas foi tudo declarado
(ao Tribunal Regional Eleitoral).
Nós vamos fazer uma licitação
clara, pública e transparente para
todo mundo vigiar e que seja o
mais barato possível porque não
existe mais propina e espero que
caia o preço.
Folha - Investigações sobre os
atuais contratos apontaram uma
série de irregularidades e superfaturamento do preço do serviço.
Marta - Está tudo com o Ministério Público. O que for apurado vamos rever.
Folha - Essas empreiteiras que estão sob suspeita de irregularidades, mesmo assim elas podem participar da licitação?
Marta - Enquanto essas empresas não forem condenadas, não se
pode proibir de participar, ou pode? Acho que não.
Folha - O caso da máfia dos fiscais
mostrou que a prefeitura tem uma
estrutura funcional habituada a
procedimentos não muito adequados à coisa pública. Como vocês
pretendem enfrentar isso?
Marta - Vamos depender muito
da ouvidoria. Vamos criar uma
infra-estrutura boa para ela.
Folha - Existe alguma medida para aumentar a arrecadação?
Marta - A cobrança de pessoas
que devem à prefeitura é uma das
medidas. Mas há dívidas de R$ 15
que custam R$ 8,70 para o fiscal ir
cobrar. Estamos estudando para
ver como podemos fazer para melhorar essa cobrança.
Folha - A prefeitura vai fazer uma
anistia para casos como esse que a
senhora citou?
Marta - Não foi pensado nisso
ainda. Tem a questão do Refis
(programa de recuperação fiscal
que beneficia determinados setores de empresas prestadoras de
serviço) que precisa ser vista. Vamos ver se manteremos isso que
foi aprovado ou não.
Folha - Já há alguma idéia do que
se fará com o Refis?
Marta - Estamos estudando.
Folha - O partido desistiu de entrar na Justiça contra o projeto
aprovado?
Marta - Estamos estudando e
não decidimos nada ainda. Isso
que você está falando eu não sei,
então vamos ter de sentar com o
partido para não fazer uma coisa
dissonante e vamos ver o que faremos em conjunto. Em conjunto
não. A prefeitura vai escutar o
partido e vamos tomar a decisão.
Folha - O secretário João Sayad
(Finanças) afirmou que haveria
contestação judicial do Refis.
Marta - O secretário, o partido e
eu vamos sentar e tomar uma decisão. Ninguém está brigando por
causa disso. Vamos decidir o que
é melhor para a cidade.
Folha - Na sua avaliação, quais foram os erros cometidos na outra
administração petista (1989-1992)
que podem ser evitados agora?
Marta - A outra administração já
foi e não interessa mais. Avaliamos internamente o que é aproveitável e o que não é. Agora é bola para frente.
Folha - Na indicação dos futuros
administradores regionais, surgiram acusações de loteamento dos
cargos para favorecer parlamentares petistas.
Marta - O que as pessoas têm de
entender é que fizemos uma coisa
muito mais ampla do que jamais
foi feita. Somos um partido que
está no poder. Com as indicações
que tivemos da sociedade civil e
do próprio partido, além dos aliados e coligados, fomos avaliando
o que era melhor para cada região. Alguns lugares foram pessoas do PT mesmo. Eu não posso
ter como critério o fato de que por
ser do PT não pode entrar. Isso é
ridículo. O critério teria de ser: se
tem dois iguais e o melhor é do
PT, que seja do PT. Teve lugares
onde houve indicações melhores
do que as do PT e aí privilegiamos
os outros.
Folha - Como será o processo de
implantação das subprefeituras?
Marta - Gostaria de encaminhar o
projeto para a Câmara em junho
ou julho. Mas o estado em que as
regionais estão vai dificultar até
mesmo colocá-las de pé para fazer
zeladoria. O secretário de Implantação das Subprefeituras (Arlindo
Chinaglia) estava me dizendo que
não sabe se em seis meses dará
para colocar as regionais em pé e,
ao mesmo tempo, começar a
transformar. Pode ser que atrase
alguns meses. Talvez tenhamos
nos precipitado em dizer para o
eleitorado que em seis meses a
proposta estaria pronta.
Folha - A senhora pretende levar
ao conhecimento público esse
diagnóstico do que vão encontrar
na administração municipal?
Marta - Com certeza. Não sabemos ainda de que forma. A população sabe que está um caos, mas
vamos dizer o que faremos. Por
exemplo, estas fotos (mostra efusivamente algumas fotos das escadarias do Pacaembu e da lateral
do estádio completamente sujas)
foram tiradas no Natal. Estamos
documentando a situação. Olha
estas aqui (fotos de outdoors irregulares). São quase 700 locais públicos invadidos por outdoors.
Vamos tirar e denunciá-los.
Folha - A senhora sente o peso da
responsabilidade nestes momentos que antecedem sua posse na
Prefeitura de São Paulo?
Marta - Eu sinto, mas durmo.
Estou me esforçando o máximo.
O possível nós faremos. Ninguém
muda esse caos em pouco tempo.
Folha - A senhora não teme ser
classificada de populista ao anunciar iniciativas como a de ir ao estádio do Pacaembu para limpá-lo?
Marta - Se faz, é porque faz; se
não faz, é porque não faz. Eu sou
uma prefeita que não vou ficar fechada no Palácio das Indústrias.
Uma vez por semana eu vou às
administrações regionais. Vou
conversar com o administrador,
vou almoçar num restaurante popular do bairro e depois visitar as
zonas carentes daquela região.
Não há nada que se faça que não
tenha contestação. Algumas pessoas acham ridículo e outras
aplaudem. Eu tenho de fazer o
que acho certo. No momento em
que a prefeita vai, tem boa-vontade, pega a lata de tinta e fica lá, lavando junto, isso estimula as pessoas a irem também. Pensamos
em fazer isso em outras avenidas,
como Santo Amaro, Radial Leste
e Aricanduva.
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