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Metade dos universitários não se forma
Brasil tem uma das mais altas taxas de evasão no ensino superior; índice nas universidades pagas é o dobro do nas públicas
Para um dos responsáveis pelo estudo, o principal motivo da alta evasão
não é econômico, mas de qualidade do ensino
João Sal/Folha Imagem
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Felipe Thomé da Silva, 23, que desistiu do curso de jornalismo após dois anos, iniciou o de direito, mas trancou a matrícula |
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Anualmente, milhões de jovens no Brasil comemoram a
entrada na universidade. Uma
parcela expressiva deles, no entanto, ficará no meio do caminho. Um estudo feito a partir do
Censo da Educação Superior
pelo Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da
Ciência e da Tecnologia mostra
que somente metade dos alunos que ingressam anualmente
no sistema consegue, quatro
anos depois, se formar.
Para estimar a evasão no ensino superior brasileiro, o instituto comparou o número de
concluintes com o de ingressantes quatro anos antes. Essa
relação é chamada de taxa de titulação. No caso do Brasil, ela
foi de 51% em 2005, já que 718
mil estudantes se formaram
naquele ano, número bastante
inferior ao 1,4 milhão que, em
2002, entrou no sistema. Os
49% restantes representariam,
portanto, o contingente estimado que evadiu do sistema.
Comparações feitas pelo instituto mostram que a taxa é alta
quando comparada com países
desenvolvidos ou em desenvolvimento. No Japão, apenas 7%
dos alunos não concluem o curso após quatro anos. No México, esse percentual chega a 31%.
O patamar brasileiro é próximo
do da Colômbia (51%).
Uma outra forma de avaliar a
evasão é estimando isso anualmente. Nesse caso, os dados do
Censo da Educação Superior
calculados pelo Instituto Lobo
mostram que a taxa em todo o
sistema foi de 22%. Isso significa que 750 mil alunos deixaram
de estudar em 2005. Essa taxa,
no entanto, é maior na rede privada (25%) do que na pública
(12%). Ao longo dos últimos
cinco anos, tanto a taxa de evasão anual quanto a evasão em
quatro anos ficaram estáveis.
Para Oscar Hipólito, um dos
autores do estudo coordenado
pelo consultor e ex-reitor da
USP Roberto Lobo e realizado
em parceria com Paulo Motejunas e Maria Beatriz de Carvalho Lobo, as instituições de ensino superior precisam adotar
novas estratégias para evitar
que o aluno deixe de estudar,
em vez de apenas se preocuparem em atrair estudantes.
"De 2004 para 2005, o número de matrículas no ensino superior aumentou em 290 mil. O
número de alunos que evadiram do sistema, no entanto, foi
muito maior [750 mil]. A perda
desses alunos causa prejuízos
tanto para a rede pública quanto para a privada, já que você
mantém toda uma estrutura
para receber aquele aluno, mas
ele não está mais estudando."
Na avaliação dele, o principal
fator a explicar a evasão não é
econômico, mas sim de qualidade do ensino: "Acreditava-se
muito que a questão financeira
era a vilã da história, mas percebemos em vários estudos que
há várias outras razões. A principal delas talvez seja o desestímulo com o curso ou a falta de
conhecimento prévio sobre a
carreira escolhida no vestibular. Se o ensino for de qualidade
e houver bons professores, no
entanto, ele fará de tudo para
continuar estudando".
Escolha precoce
O presidente do Conselho
Nacional de Educação, Edson
Nunes, concorda com a análise
de Hipólito. "Acho até surpreendente que a taxa de desistência não seja maior, já que
muitos cursos têm a mesma cara que tinham no século 19 e
não são atraentes para os jovens. São visões antigas de
mundo, que oferecem pouco do
ponto de vista de uma formação mais sólida. Hoje, nossas
universidades oferecem, na
verdade, apenas um ensino tecnológico metido a besta."
O reitor da Universidade Federal de Mato Grosso e presidente da Andifes (associação
dos reitores das federais), Paulo Speller, cita também como
explicação o fato de a escolha
da carreira ser feita muito cedo
no Brasil. "O jovem faz muitas
vezes uma escolha não acertada e acaba optando por trocar
de curso numa mesma universidade ou até por voltar a fazer
um novo vestibular", diz.
Felipe Thomé da Silva, 23, foi
um dos milhares a ter se desiludido com sua escolha. Ele fez
dois anos de jornalismo, mas
desistiu. "Vi que não era a minha área e tranquei o curso",
conta. Ele decidiu fazer um novo vestibular, desta vez para direito. "Eu até estava gostando
do curso, mas tive que trancar a
matrícula por não ter como pagar. Em 2007, no entanto, tenho planos de voltar a estudar."
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