São Paulo, segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

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Águas-vivas queimam mais de 250 banhistas

Casos proliferam em Praia Grande; 98% são considerados sem gravidade

Caravelas teriam sido trazidas com massa de água fria que se deslocou para a praia, levadas pelo vento e por correntes marítimas

MARIANA CAMPOS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PRAIA GRANDE

Às vésperas do Réveillon, casos de banhistas queimados por águas-vivas não param de ocorrer em Praia Grande (86 km de SP), no litoral paulista.
Oficialmente, 254 pessoas foram atendidas em prontos-socorros da cidade desde quinta-feira, apresentando queimaduras pelo corpo. O número de vítimas é maior porque, depois de socorridos, alguns pacientes deixaram de preencher as fichas no pronto-socorro. Alguns são atendidos antes de preencher o formulário para evitar que a dor se prolongue.
Segundo a assessoria de imprensa da prefeitura, a suspeita era de que a correnteza estivesse levando as águas-vivas em direção ao litoral norte, mas, até o fechamento desta edição, não foram registrados casos em São Vicente (74 km da capital).
Da noite de quinta-feira até as 20h de anteontem, 242 casos foram contabilizados. Ontem, ao menos 12 pessoas foram atingidas pelas chamadas caravelas-portuguesas, um tipo de água-viva colorida.
"A água-viva pegou no meu braço e deu a volta nas costas", afirmou Douglas Oliveira Carneiro, 18, que era atendido no pronto-socorro após ter sido atingido na praia da Aviação. Ele chegou a desmaiar na praia.
Douglas estava na praia com três amigos. "[A água-viva] grudou nele e, quando fomos tentar tirar, grudou em todo mundo", disse Magno Viana, 17. "A sensação é pior que fogo. Queima por dentro e por fora."
Segundo o médico Adriano Bechara, secretário-adjunto de Saúde, 98% dos casos foram considerados sem gravidade.
"Montamos um esquema especial nos prontos-socorros e todos estão recebendo atendimento. O ideal, com certeza, seria a prevenção. Infelizmente, isso a gente não teve como fazer, pois foi tudo muito rápido."
O subtenente Marcos dos Santos, do Corpo de Bombeiros de Praia Grande, afirmou que a quantidade de casos foi uma surpresa. "Não estamos preparados para isso."

Muita gente
O deslocamento de uma massa de água fria em direção à praia, pelo vento e correntes marítimas, pode ter causado o aparecimento das caravelas.
Para o médico Vidal Haddad Júnior, do Instituto Butantan (SP), os tentáculos podem chegar a 30 metros de comprimento e atingir um grande número de pessoas, já que a praia está lotada. "Não há caravelas demais. Há gente demais."
"Esses animais são como uma semente de planta que, conforme o vento, é levada para um lugar ou outro. Neste caso, acabaram vindo para a praia", diz o oceanógrafo Hugo Gallo, diretor do Aquário de Ubatuba.
Luiz Alonso Ferreira, diretor-presidente do Museu do Mar, em Santos, recomenda que se evite entrar no mar nessas situações. Segundo ele, o animal tem um veneno muito tóxico. Em caso de queimadura, os especialistas recomendam lavar com água salgada. A água doce tem o efeito contrário, aumentando a queimadura.
A bióloga marinha Melisa Sakamoto, da ONG Projeto Caravela, de Caraguatatuba (SP), recomenda também molhar o local queimado com vinagre -o ácido acético diluído neutraliza a toxina.


Colaboraram SÍLVIA FREIRE, da Agência Folha, e MARIANA IWAKURA, da Reportagem Local


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