São Paulo, sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

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ANÁLISE

Poder Público no Brasil não faz sua parte para melhorar qualidade do ar

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

A poluição do ar é como o câncer: ninguém é a favor. É sob essa perspectiva que se justificam iniciativas como a inspeção veicular, que tem o objetivo de reduzir a carga de poluentes que a frota paulistana despeja no ambiente.
Não há dúvida de que carros mal regulados poluam mais. Só que essa é apenas uma ponta do processo e talvez não a mais importante.
Um modo mais inteligente de melhorar o ar que respiramos é atuando sobre a qualidade dos combustíveis.
Em vez de lidar com 6 milhões de proprietários de veículos para obter resultados no varejo, trataríamos com meia dúzia de atores, a Petrobras e os fabricantes de veículos, e os êxitos viriam no atacado. Só que nosso histórico aqui é bastante sofrível.
Apesar de a Petrobras se autoproclamar uma campeã do meio ambiente, segue vendendo um óleo diesel que se conta entre os mais venenosos do planeta.
Em alguns pontos de distribuição, ele chega a conter 1.800 ppm (partes por milhão) de enxofre, contra um padrão de 10 ppm exigido na Europa e no Japão.
Pior, a estatal descumpriu uma resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) que mandava baixar o teor de enxofre para 50 ppm até 2009. Não estão previstas melhoras substanciais pelo menos até 2013.
Também seguimos bem atrás do padrão sanitário cobrado nos países desenvolvidos em vários outros parâmetros do combustível, como o monóxido de carbono e as olefinas e compostos aromáticos (que acabam produzindo o ozônio). A única exceção notável é o chumbo, que teve sua utilização na gasolina banida em 1989.
Outra maneira eficaz de melhorar a qualidade do ar é pela via fiscal.
Na maioria das nações civilizadas, carros velhos, que poluem mais, são sobretaxados. Por aqui, como a tributação não leva a questão ambiental em conta, pagam menos imposto, no que configura um estímulo à má qualidade do ar.
Faz sentido pedir que cada proprietário de veículo dê sua contribuição para que tenhamos uma cidade mais saudável, mas é complicado exigi-lo quando o próprio poder público deixa de fazer a sua parte. É aí que surge o sentimento de revolta.


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