São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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Alberto César Araújo / Folha Imagem
Maria Madalena, 73, com o filho Marivan, a nora Neide e os netos Marcelo e Matheus; dos 8 filhos dela, 4 emigraram para os EUA
MANAUS - Maria Madalena, 73, com o filho Marivan, a nora Neide e os netos Marcelo e Matheus; dos 8 filhos dela, 4 emigraram para os EUA

Clóvis Rossi

Uma diáspora de 30 milhões

A diáspora brasileira é muito maior do que se supõe, podendo afetar quase 30 milhões de pessoas, se se extrapolar para o conjunto da população dados da pesquisa Datafolha que mostram que 15% dos pesquisados têm alguém da família morando atualmente no exterior. Quinze por cento dos praticamente 190 milhões de brasileiros computados pelo IBGE dá exatamente 28,5 milhões, sete vezes mais do que a estimativa mais conservadora utilizada sobre a diáspora. Em geral, calcula-se entre 4 milhões e 6 milhões o número de brasileiros que residem atualmente no exterior.
É claro que a estimativa é muito precária, porque a grande maioria viaja como turista e passa a residir clandestinamente no país de destino. Outros emigrantes, mesmo legalizados, não se dão ao trabalho de registrar-se nos consulados brasileiros, o que torna impraticável trabalhar com números fiéis à realidade. Há, no entanto, dados que parecem autenticar os números encontrados pela pesquisa. Exemplo bem recente: na sua visita à Dinamarca, em meados de setembro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se com representantes da comunidade brasileira no país. Havia cerca de 200 convidados, mas os brasileiros residentes na Dina-marca chegavam a 1.800. Se é esse o número em um país remoto, de língua diferente de qualquer uma que apareça nos currículos escolares, é fácil imaginar a quantidade em países mais familiares para brasileiros, como é o caso de Portugal, em que a comunidade brasileira é a maior.
A Folha conversou com alguns interlocutores de Lula, que revelavam nível de informação, mesmo sobre o distante Brasil, bastante elevado, além de formação universitária. Havia até uma professora de fitopatologia na universidade de Copenhague. Essa impressão empírica combina com os dados da pesquisa: 27% dos que têm alguém da família que mora no exterior têm formação superior, segundo os pesquisados, bem mais que os 11% que têm apenas ensino fundamental.
Também é eloqüente o fato de 33% dos parentes de emigrados entrevistados terem renda superior a 20 salários mínimos. É apenas nesses dois itens que aparecem diferenças grandes em relação à média geral, nas diferentes subdivisões da pesquisa. O número de mulheres e homens, a faixa etária, a natureza do município (capital, interior ou região metropolitana), o estado conjugal e ter ou não filhos –todos esses itens ficam perto da média geral. Outra diferença, embora pequena, se dá na divisão regional: a maioria relativa dos emigrados (19%) é das regiões Norte e Centro-Oeste.

Os filhos de Maria - por Kátia Brasil e Hudson Corrêa

A vida da amazonense Maria Ma-dalena Nascimento, 73, é dividida entre Manaus (AM) e Tampa, na Flórida, EUA. Há 15 anos, 4 de seus 8 filhos decidiram morar, trabalhar e estudar fora do país. “Nos Estados Unidos, mesmo trabalhando em limpeza de casa, você melhora de vida. Eles têm casa e carro. Passaram um tempão pagando, mas não pagam caro como paga-riam no Brasil”, afirma ela.
Outros dois filhos de Madalena que moram em Manaus estão tentando obter o visto de entrada nos EUA. Há ainda cinco netos vivendo em Tampa e outros dois que se pre-param para ir. Ao menos uma vez por ano, ela viaja para matar a saudade dos filhos. A mudança na família, que é evangélica, começou em 1992, quando Antônio foi morar com uma família de pastores de sua igreja nos EUA –ele retornou nove anos depois.
Depois foram Michael, 33, Neide, 49, Isaías, 36, e Maristela, 43. Para facilitar a vida da família e fazer economias, Michael comprou uma casa de cinco quartos. Hoje todos têm negócios nos ramos de limpeza e construção e estão em situação legal no país, segundo a aposentada. Em novembro, ela vai novamente a Tampa. “Vou passar o Natal com eles.”

Nos passos dos pais

Casados há 41 anos, Adélia, 61, e Wataro Ajiki, 71, donos de uma confeitaria em Campo Grande (MS), ainda não conhecem a neta Lara Mai, 3, nascida no Japão. O pai da menina é César, 28, que está há dez anos no Japão, onde se casou com Márcia, paulista. “Eu queria ir ao casamento, mas não pude, é caro”, diz Adélia. Além de César, a família Ajiki espera a volta de outra filha, Angélica, 35, há 18 meses no país. Angélica e César seguiram o exemplo dos pais, que trabalharam durante oito anos em uma fábrica japonesa de postes. “O salário é dez vezes maior em relação ao mínimo brasileiro”, afirma Wataro. A confeitaria foi aberta com o dinheiro.
César também trabalha em uma fábrica de postes, e Angélica está no setor de autopeças. A preocupação dos pais é de um possível envolvimento com drogas, devido às “más companhias”. “Mas, como ele [César] achou uma companheira, casou-se, a preocupação ficou menor. Com a filha, eu ficou mais preocupada”, diz Adélia. Outro problema são as diferenças culturais. “O pessoal [no Japão] é reservado. Como se diz, é meio frio”, conta Wataro, nascido em Birigüi (SP).




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