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Haddad defende ação da PM para tirar protestos de vias
Para prefeito, grupo deve 'renunciar à violência' e polícia seguiu protocolo
Movimento promete terceiro ato amanhã, na avenida Paulista, contra reajuste das tarifas de transporte
O prefeito Fernando Haddad (PT) impôs uma condição para dialogar com os manifestantes que já fizeram dois protestos contra a alta das tarifas de transporte em São Paulo: diz que eles precisam "mudar de estratégia" e "renunciar à violência".
Para ele, a PM, que reprimiu os protestos de quinta e sexta-feira com bombas de gás e balas de borracha, agiu para manter ruas livres e garantir a integridade de quem não participava do ato.
"A Polícia Militar tem que seguir protocolos e um deles é manter vias expressas desimpedidas. [Do contrário] isso coloca pessoas que estão circulando em risco", afirmou à Folha anteontem, antes de embarcar para Paris, onde defenderá a candidatura da cidade à Expo 2020.
"A [região da] Paulista tem hospitais que atendem boa parte da população. Se estiver obstruída, haverá risco. Se amanhã alguém morre numa ambulância, vão dizer que a PM não agiu conforme o protocolo", afirmou o petista, sobre a atuação da polícia comandada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB).
O Movimento Passe Livre, responsável pelos protestos, promete nova manifestação amanhã à tarde na Paulista. Ele é liderado por estudantes e alas radicais de esquerda.
"O patamar de civilidade é admitir a manifestação, ordená-la para que o direito das pessoas que não participam da manifestação esteja tão assegurado quanto o de quem participa", afirmou Haddad.
Segundo o prefeito, havia interlocutores dele à disposição quando os protestos iniciaram. "Mas não houve desejo de interlocução."
Na quinta-feira, os manifestantes quebraram a entrada de estações na Paulista, após confronto com a PM. "A pessoa eleita tem que estar aberta ao diálogo, mas o pressuposto disso é a renúncia à violência. Esses atos são incompatíveis com o debate".
Na gestão Gilberto Kassab (PSD), líderes do PT apoiaram o Passe Livre. Haddad nega contradição. "No passado, o estopim do protesto foram reajustes acima da inflação".
Para Haddad, o movimento não reconheceu o esforço da atual gestão de reajustar a tarifa de ônibus "bem abaixo da inflação" --de R$ 3 para R$ 3,20, alta de 6,7%, contra 15,5% do IPCA acumulado.
"Todo mundo aumentou para R$ 3,30 no começo do ano e São Paulo segurou até sair a medida provisória da desoneração." Ele se refere à decisão da presidente Dilma Rousseff (PT) de desoneração de PIS/Cofins das viações.
O prefeito disse que outras medidas estão em discussão com Estado e União --como a desoneração do ICMS sobre o diesel do transporte público.
Ele não vê meios de haver tarifa zero, reivindicação do Passe Livre. "Uma bandeira, às vezes, coloca uma utopia, mas que indica um problema que é o peso do transporte no bolso do trabalhador."
E sinaliza não ser possível dar mais subsídios que a previsão de R$ 1,2 bilhão/ano.