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O polo sul de SP

Em Parelheiros, o bairro mais frio da capital, moradores enfrentam vento cortante e sensação de -1ºC para ir trabalhar

CÉSAR ROSATI DE SÃO PAULO

No polo sul de São Paulo, não tem pinguim nem focas. Mas, com o frio que chegou no início da semana, moradores de Parelheiros se sentiram quase como se vivessem na Antártica.

O bairro mais frio da cidade fica encostado na serra do Mar, no extremo sul, em um terreno rodeado por represas e muitas árvores. O resultado é alta umidade e vento cortante --uma "tortura" para quem precisa acordar nas primeiras horas da manhã.

A sensação térmica chegava aos 4°C quando o eletricista Geraldo Alves, 41, se levantou para ir trabalhar, às 3h30 de ontem. No dia anterior, foi pior: quem saía aquele horário sentia um frio de -1°C.

Vestindo duas blusas, duas calças e um gorro, ele admite que a rotina não é das mais agradáveis. Mas, como morador do bairro há cerca de 20 anos, ele se diz acostumado às manhãs gélidas. "Faz parte. Tem que ir trabalhar, né?"

Mas não são todos os moradores da região que conseguem suportar o frio "polar". Na mesma madrugada, o encarregado de manutenção Marcos de Paula, 50, deixava apenas uma parte do rosto descoberta enquanto esperava no terminal de ônibus.

"Nasci aqui e, desde o fim da década de 1970, não sentia um frio como esse", disse o trabalhador, que vestia três blusas por baixo de uma jaqueta pesada.

Ele, que também se levanta nas horas mais frias do dia, lamenta a falta de oportunidades de emprego na região. "Poderia ter mais empresas aqui. Assim, não precisava acordar tão cedo."

A distância de cerca de 40 quilômetros do centro também incomoda a ajudante de cozinha Luciene Ferreira, 27 --três agasalhos, capuz, duas calças e duas meias. "Acabo tirando tudo quando chego ao trabalho", diz.

MORADORES DE RUA

Apesar das baixas temperaturas, parte dos cerca de 15 mil moradores de rua da cidade ainda se recusa a abandonar as calçadas, marquises e viadutos.

A Folha acompanhou o trabalho de uma entidade civil que ajuda a prefeitura no acolhimento da população. Foram feitas quatro abordagens do final da noite de quarta-feira até o começo da madrugada de ontem com cerca de 20 pessoas. Apenas uma decidiu ir para um dos 63 abrigos do município.

Na rua há dois anos, Renan Gonçalves, 42, não quis a ajuda da entidade, afirmando ser o "anjo da guarda" de um grupo que tem o viaduto Professor Bernardino Tranchesi, no centro, como casa.

"Eles precisam de alguém que os ajude. Salva eles", pedia o morador, que carregava uma garrafa de cachaça para se "aquecer" do frio.

Hoje, o sol deve finalmente reaparecer na capital, mas o frio continua intenso. Segundo a Somar Meteorologia, os termômetros da cidade ficam entre 7ºC e 14ºC e há possibilidade de chuva fraca.


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