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Cansei!

Jornaleiro da Água Branca decide cobrar R$ 8 de quem pede informação sobre a localização de prédios e ruas; perguntar ao dono da banca é 'vício', diz ele

LEANDRO MACHADO DE SÃO PAULO

Está todo mundo comentando na Água Branca. O seu Palmeirense resolveu, no mês passado, aumentar o preço da informação. Agora, quem quiser arrancar do jornaleiro um endereço ou a localização de um prédio no bairro da zona oeste de São Paulo precisa pagar R$ 8.

"Onde fica o posto da previdência social?", pergunta a advogada Patrícia Rocha, 23, colocando um papel com o nome da rua em cima do balcão do seu Palmeirense.

"Custa R$ 8 a informação", diz ele, mostrando um cartaz colado num vidro da banca.

"Como assim? Não vou pagar", reclama Patrícia.

"Então não sei", responde o jornaleiro, que tem a banca no bairro há 16 anos --três deles na avenida Francisco Matarazzo, em frente ao parque da Água Branca.

A advogada, então, vira, olha para cima e vê uma placa indicando o edifício que procurava. "Ah, é ali!"

O seu Palmeirense não quis revelar o nome. Nos últimos três meses, ele tem provocado revolta e risos em quem passa pela banca. Comerciantes da região até pensam em imitar a cobrança.

Cansados de serem interrompidos com perguntas, o jornaleiro e a sua mulher decidiram começar a cobrar R$ 2 por reposta. Há um mês, aumentaram para R$ 8. "Não trabalho de graça", diz ele.

"O senhor sabe onde fica a avenida Adolfo Pinto?", pergunta a dona de casa Mércia da Silva, 55. "Não sei", responde seu Palmeirense. "É claro que sabe, onde já se viu? O senhor vai morrer sozinho", diz Mércia, nervosa.

Em cerca de 20 minutos, enquanto a reportagem conversava com o casal, cinco pessoas pediram informação. Ninguém comprou nada nem pagou os R$ 8.

"É um vício das pessoas pedir informação a jornaleiro", disse a dona da banca, que também não revelou o nome.

A banca fica a cinco metros de uma viela que liga a avenida Francisco Matarazzo à rua Tagipuru, próxima à estação Barra Funda do metrô.

Quem sobe a viela não encontra nenhuma placa informando que, ali na esquina, já é a avenida. Não dá para saber, por exemplo, para que lado fica o número 1.000.

A primeira coisa que se vê é a banca de jornal.

Em março de 2011, o casal pediu à Subprefeitura da Lapa que uma placa fosse colocada na esquina.

Ligou outras cinco vezes, mas o pedido foi indeferido porque a viela não tem nome. A subprefeitura diz que só pode colocar a placa se um vereador sugerir um nome e o pedido for aprovado na Câmara.

Além da estação do metrô e do parque, a região abriga um posto da previdência, hospitais, shoppings e o Palmeiras. A banca do seu Palmeirense é a única num raio de mais de um quilômetro.

Ao lado, funcionários de um estacionamento também sofrem com as perguntas. "Trabalho mais falando onde fica a previdência do que cobrando os motoristas", diz Diego Bino, 25.

"Ninguém nunca pagou nem vai pagar, a gente sabe disso. A cobrança é uma ironia", diz a dona da banca.

"A senhora sabe onde tem um ponto de ônibus aqui?", pergunta uma mulher.

"Não sei", diz a jornaleira. O ponto fica bem em frente, no canteiro central da avenida. "Ah, é ali", diz a mulher, atravessando a rua.


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