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Médicos questionam infraestrutura e exigências e abandonam programa

Profissionais desistem de bolsa federal alegando de precariedade a desconhecimento de regras

Nova fase de inscrições mantém baixa adesão; para ministro, cidades vivem 'drama' igual ao de quando há concurso

DANIEL CARVALHO DE RECIFE NELSON BARROS NETO DE SALVADOR

A carreira de Nailton Galdino de Oliveira, 34, no programa Mais Médicos, bandeira de Dilma Rousseff (PT) para levar atendimento de saúde ao interior e às periferias, durou menos de 48 horas e exatos 55 atendimentos.

Alegando estar impressionado com a estrutura precária da unidade em Camaragibe (região metropolitana do Recife), onde atuou por dois dias, pediu desligamento.

"É uma aberração: teto caindo, muito mofo e infiltração, uma parede que dá choque, sem ventilação no consultório, sala de vacina em local inapropriado, falta de medicamentos", afirmou.

Casos de desistência como esse frustraram parte dos municípios que deveriam receber anteontem 1.096 médicos brasileiros da primeira etapa do programa (os estrangeiros só vão começar depois).

A Folha encontrou exemplos espalhados pelo país, com justificativas variadas alegadas pelos profissionais --incluindo falta de infraestrutura, planos profissionais e pessoais e desconhecimento de algumas condições.

Na prática, as desistências de brasileiros devem reforçar a dependência do programa por profissionais estrangeiros.

Um balanço da segunda rodada do Mais Médicos mostra baixa adesão de novos interessados na bolsa de R$ 10 mil por mês. Houve só 3.016 inscrições --mais de metade de formados no exterior.

Enquanto isso, a demanda por médicos ultrapassou 16 mil --menos de 10% foi suprida na primeira etapa.

O ministro Alexandre Padilha (Saúde) disse que, após a nova fase, deve pensar "outras estratégias" para atrair mais médicos. Ele comparou as baixas às dificuldades cotidianas de contratação.

"As secretarias estão vivendo o drama que toda vez vivem quando fazem um concurso público", afirmou.

Ele disse que, se houve boicote de médicos contrários ao programa, "é de uma perversidade quase inimaginável".

BAIXAS

Em Vitória da Conquista (BA), dos cinco médicos que deveriam ter começado, três já desistiram. Na região metropolitana de Campinas, dos 13 selecionados, 5 pediram para sair. Na capital paulista, 1 de 6 voltou atrás.

Em Salvador, 5 dos 32 convocados já abandonaram, assim como 11 dos 26 profissionais previstos em Fortaleza. No Recife, 2 desistências foram confirmadas de um total de 12 médicos selecionados.

A Secretaria da Saúde de Salvador disse que três desistiram porque passaram em concursos, enquanto outros dois alegaram problemas com a carga horária.

A baiana Clarissa Oliveira, 27, disse que recuou devido "à falta de estrutura" da unidade em que trabalharia na periferia da capital baiana.

Em Caratinga (MG), um médico de 26 anos disse que abandonou devido à vinculação obrigatória de três anos.

O coordenador do Mais Médicos em Fortaleza, José Carlos de Souza Filho, disse que médicos desistiram logo que "ressaltamos que era necessário cumprir a carga horária de 40 horas e que iriam ficar em bairros mais distantes".

Segundo ele, profissionais acharam que poderiam usar parte da carga horária para se dedicar à especialização.

Em Camaragibe, Nailton Oliveira também alegou não ter recebido alimentação nem moradia individual. A prefeitura nega, diz que ele "demonstrou má vontade" e afirma que a unidade precisa de reparos, mas "nada que impeça seu funcionamento".


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