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Médicos sofrem com falta de estrutura no interior do Amazonas

82 participantes de programa do governo irão para 33 cidades do Estado neste mês; 42 deles são de Cuba

Condições de trabalho e as longas distâncias são principais queixas de profissionais que trabalham na região

LUCAS REIS ENVIADO ESPECIAL A MANAQUIRI (AM)

Uma mulher abatida bate na porta do consultório. "Sinto dor, febre e mal-estar já faz 15 dias. A gente mora longe, tem que vir de barco", diz Elcilene Ribeiro Gonçalves, 29, que vive em uma comunidade ribeirinha do rio Solimões.

Após procurar no hospital estadual --uma unidade de saúde pequena e maltratada--, a mulher encontra um médico no posto de saúde indígena da cidade, mantido por uma ONG.

"Me parece virose", diagnostica o peruano Lorenzo Giovanni Marcos, 41, sem nem sequer examiná-la, enquanto prescreve a receita.

Trabalho em locais de estrutura precária, de difícil acesso e salários atraentes, mas com futuro incerto, compõem o universo dos médicos no interior do maior Estado do Brasil.

Nos relatos de profissionais com experiência nas cidades mais longínquas, há uma expressão recorrente: falta de estrutura.

"O médico que já trabalhou no interior do Amazonas conseguirá trabalhar em qualquer lugar do Brasil", afirma Joelison Adriano de Carvalho, 31, que já passou por Manacapuru, Juruá e Coari, e hoje atua em Santa Catarina.

O interior do Amazonas abriga 1,6 milhão de habitantes, quase metade da população do Estado --na capital, Manaus, moram 1,8 milhão de pessoas, segundo censo do IBGE de 2010.

"Já levei três pacientes em três ambulâncias diferentes de Manacapuru até Manaus [em comboio]. Não havia monitor, então não tinha como saber se estavam vivos. Sedei os três e fui parando pela estrada para checar", lembra o médico Antônio Filho.

Segundo o Conselho Regional de Medicina do Amazonas, há um profissional para cada mil habitantes na capital, e 0,6 no interior.

Ao todo, no Estado, de acordo com o Ministério da Saúde, a média é de 1,06 --o índice nacional é de 1,83 médico por mil habitantes.

MAIS MÉDICOS

A partir deste mês, 82 profissionais selecionados na primeira etapa do programa Mais Médicos vão atender pacientes de 33 municípios e áreas indígenas do interior do Amazonas. Serão 40 médicos brasileiros e 42 cubanos.

"Quando os colegas souberem o que é o interior do Amazonas, como é difícil chegar e sair, como é difícil a vida lá, metade vai desistir logo de cara", diz Mário Vianna, presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas.

A falta de equipamentos adequados, remédios e e problemas de transporte são as queixas mais comuns.

"Há locais em que só se chega de barco. Se o paciente precisar ser deslocado, pode morrer. E é isso o que acontece na maioria das vezes", diz Jefferson Jezini, presidente do conselho regional.

As contratações geralmente são feitas por meio de acertos verbais com os prefeitos --os salários costumam ser atraentes, de R$ 8.000 a R$ 15 mil, mas atrasos e falta de pagamento fazem muitos médicos desistirem da cidade.

"[O lado positivo] É aprender a lidar com gente", afirma Antônio de Pádua Ramalho, 51, professor da Universidade Federal do Amazonas que atuou no interior do Estado por 23 anos. "No Amazonas, o povo está acostumado a achar que morrer é da vontade de Deus."


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