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Análise - Mais Médicos
Críticos ao programa avaliam que classe errou nas reações
Profissionais apontam que categoria foi inábil e está malvista pela população
Enquanto a briga entre o governo federal e as entidades médicas não dá sinal de trégua, em diversos fóruns os médicos já se posicionam contra o que chamam de "radicalismo" dos seus representantes no debate sobre o programa Mais Médicos.
Embora critiquem vários pontos do programa e considerem a medida "eleitoreira", esses profissionais dizem que a categoria foi inábil e ficou malvista pela população.
"Erramos. Não soubemos fazer o diagnóstico da situação. A população ficou contra a gente", comentou um médico, que pediu para não ser identificado, em debate realizado anteontem à noite na Fundação Getulio Vargas.
O urologista Miguel Srougi, um dos palestrantes, lembrou que as entidades perderam tempo demais na defesa de que o país não precisava de mais médicos ou de mais escolas médicas.
Hoje, existe uma unanimidade de que não só o Brasil como o resto do mundo vive uma escassez de médicos.
Outros profissionais avaliam como "um grande equívoco" os protestos contra os cubanos, que alimentaram a antipatia da população contra os médicos.
"Tive vergonha da minha categoria", disse o patologista Paulo Saldiva, em debate na USP na semana passada.
Em sua coluna na Folha no último sábado, o oncologista Drauzio Varella também manifestou insatisfação.
"O que ganhamos com essas reações equivocadas? A antipatia da população e a acusação de defendermos interesses corporativistas", escreveu ele.
PESQUISA
Embora essa não seja a opinião oficial das entidades de classe que os representam, esses médicos estão certos em relação a que lado a população está agora.
Pesquisa da CNT (Confederação Nacional do Transporte), divulgada anteontem, apontou que 73,9% dos brasileiros se declararam favoráveis à importação dos profissionais formados no exterior. Em julho, esse percentual era de 49,7%.
O número de entrevistados que disse ser contra o programa caiu de 47,4% em julho para 23,8% em setembro.
Talvez os médicos tirem uma lição disso tudo, na hora de expor seus argumentos: a necessidade de levar em conta a situação de quem vive nos rincões do país, sem assistência médica.
Essa população não quer saber se a União deveria investir 10% de suas receitas em saúde ou se estrangeiros teriam que passar por exames para a revalidação do diploma. Ela só quer um médico.