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Fumaça provoca fuga em massa em cidade de Santa Catarina
Nuvem química causada por incêndio fecha escolas e comércio e leva moradores a deixar São Francisco do Sul
Visto a 25 km, rastro se espalhava e havia risco de chegar ao sul de SP; é 'moderadamente perigoso', diz prefeitura
Uma nuvem química causada por um incêndio em um depósito de fertilizantes provocou ontem uma espécie de fuga em massa de São Francisco do Sul, cidade portuária a 178 km de Florianópolis.
Com medo de intoxicação pela fumaça, que provoca irritação na pele e nas vias respiratórias, moradores deixaram a cidade na madrugada e início da manhã, muitos só com a roupa do corpo.
O cenário era de bairros isolados, comércio e escolas fechadas, pessoas dentro de carros esperando para voltar para casa e congestionamentos de até 10 km na saída do município, de 46 mil habitantes. Mas a prefeitura não tinha estimativa da evasão.
Cerca de 400 pessoas foram encaminhadas a abrigos. "Nem fiz pergunta. Saí sem casaco. E as crianças, de camiseta e bermuda", disse a dona de casa Luana Nascimento, 27, acordada na madrugada pelo Samu.
Ontem à noite, a fumaça amarelada ainda se espalhava, atingia municípios vizinhos (como Itapoá, a 50 km) e formava um rastro em direção ao mar. Segundo meteorologistas, poderia chegar ao sul do Estado de São Paulo.
A expectativa dos bombeiros era que o incêndio fosse controlado só a partir de amanhã à tarde. Em bairros que foram evacuados, equipes do Exército e da PM faziam rondas para evitar saques.
"Era um tufão amarelo, muito forte, se arrodeando em torno do bairro", contou a dona de casa Isabel da Cruz, 64.
"O cheiro é tipo de escape de carro", afirmou o pedreiro Sandro Carvalho, 33. "Arde o olho, a garganta. Ficou uma neblina dentro de casa."
A fumaça contém nitrato de amônio, diafosfato de amônia e cloreto de potássio.
Segundo a prefeitura, a nuvem, vista a 25 km de distância, é "moderadamente perigosa". Ao ser inalado, o nitrato de amônio, principal componente da fumaça, pode causar irritação das vias aéreas, tosse e dor de garganta.
O empresário José Mayer Júnior, 42, foi até sua casa em bairro vizinho ao incêndio, para trancar portas e pegar dinheiro. Chegou à barreira de isolamento com o rosto vermelho e os olhos lacrimejando. "Não dá nem para abrir o olho. Não se vê nada, tive que ir tateando. O pior é o cheiro. Quase desmaiei."
Ao menos 120 pessoas passaram por hospitais com sintomas respiratórios --segundo o governo, não houve caso grave. Um bombeiro de 59 anos teve de ser internado por taquicardia após sua máscara cair no combate ao fogo.
De causa desconhecida, o incêndio começou às 23h, em galpão da Global Logística. Representantes da empresa não foram localizados. Segundo o Estado, o local guardava 10 mil toneladas de fertilizantes. Houve explosão e os materiais entraram em combustão. O governo Raimundo Colombo (PSD) decretou emergência (para fazer compras sem licitação).