Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Prefeitura sai, e viciados cercam 'casarão do crack'

Entorno de imóvel no coração da cracolândia paulistana é retomado por dependentes após saída de tenda municipal

SP cita baixa demanda para desativação de centro do trabalhador; outros projetos para a região emperraram

AFONSO BENITES DE SÃO PAULO

Até dezembro de 2011, um imóvel na alameda Dino Bueno conhecido como "casarão do crack" era considerado o coração da cracolândia paulistana. Era lá que centenas de usuários se agrupavam para consumir a droga.

A feira do crack, que atravessou a madrugada por mais de uma década no mesmo lugar, foi quebrada no começo de 2012, após operação conjunta de Estado e prefeitura que tinha a promessa de acabar com o tráfico e levar dependentes para tratamento.

Pouco mais de um ano depois, o cenário voltou ao que era ao redor da construção --que virou um símbolo da tentativa do poder público de recuperar o controle da área.

O motivo foi a retirada de uma tenda do CAT (Centro de Apoio ao Trabalho) que havia sido instalada no terreno do imóvel da Dino Bueno.

O equipamento municipal visava atender moradores de toda a cidade e ajudar a reinserir no mercado de trabalho usuários de drogas do centro, enquanto eram tratados.

Nesta semana, a Folha foi três vezes ao local e constatou que, apesar de não terem invadido o antigo casarão, os viciados tomaram conta da entrada e de seus arredores.

Segundo a prefeitura, a tenda do CAT foi removida de lá em março deste ano devido à baixa demanda.

"Não saímos daqui porque é daqui que a gente gosta. Ninguém incomoda", disse um usuário, de 29 anos, morador de rua há oito.

A qualquer hora esse trecho da Dino Bueno está tomado por dependentes, que, à tarde, ouvem música alta de um bar e de uma pensão.

Alguns vendem roupas antigas em uma van que funciona como brechó. Com o dinheiro, vão até um dos vários traficantes da rua e compram novas pedras de crack.

"Essa região da cidade é uma experiência de legalização e liberação da droga. Ninguém impede o consumo lá", disse Ana Cecília Marques, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas.

OUTRAS AÇÕES

O CAT não é a única ação que não deu certo para a região. Outros planos de Estado e prefeitura emperraram.

O projeto Nova Luz, anunciado em 2005, foi engavetado pela gestão Haddad. A PM, que antes reprimia usuários, inclusive com bombas de gás, agora passa por eles e, vez ou outra, prende traficantes.

A própria prefeitura constatou que a situação é praticamente a mesma que precedia a operação de 2012. Na época, as autoridades diziam que de 800 a 1.500 pessoas circulavam por lá. Agora, diz a prefeitura, são 1.300.

Para especialistas, as idas e vindas em projetos são um retrocesso na tentativa de reduzir a epidemia do crack.

"Quase nada mudou porque as ações não são continuadas", disse o psiquiatra da Unifesp Thiago Fidalgo.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página