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Cotidiano

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Quadrilha orientava adolescentes sobre roupas e truques

Programas custavam a partir de R$ 300 e eram feitos em estacionamentos, escritórios, motéis e até barcos

Garotas virgens valiam mais; esquema foi descoberto após mãe de garota de 13 anos desconfiar da filha

LUCAS REIS DE MANAUS

Cada passo das meninas exploradas sexualmente em Manaus era orientado.

Roupa certa, horário no salão, modos de arrancar dinheiro dos clientes, truques para esconder a menstruação, pílulas do dia seguinte e até um aborto são citados em papéis da investigação obtidos pela reportagem.

Os programas aconteciam em qualquer hora e lugar: estacionamentos, escritórios, casas, motéis, barcos. Custavam a partir de R$ 300.

Garotas virgens, chamadas de "lacradas", valiam muito nesse mercado. Um agenciador contou ter "vendido" uma delas por R$ 2.200.

"Ela ficou muito destruída. [...] Era virgem mesmo, parece assustada quando voltou", disse um suspeito, em gravação autorizada pela Justiça.

Entre os clientes --homens ricos-- havia quem fizesse pedidos por meninas "tipo bebezinha". As garotas eram como produtos. "Cata alguma coisa lá que a gente tem que mudar nosso cardápio, né?", disse um dos agenciadores, sobre a necessidade de recrutar novas meninas.

MÃE

As garotas eram aliciadas em festas e academias. "Mas [que seja] uma bonitinha, bobinha, sem estilo de mulher", disse um outro recrutador.

Adolescentes menstruadas eram orientadas a usar algodão molhado no canal vaginal para esconder o sangramento. "Se tu fizer o truque direitinho, não sangra, não", disse um agenciador. Se relutavam em atender alguém, vinham as ameaças.

A existência da rede começou a vir à tona em maio de 2012, quando a mãe de uma garota de 13 anos desconfiou da filha que chegava tarde e com roupas caras. Achou um celular e a mensagem: "Tem um amigo meu que dá R$ 400, quer? É rapidinho, dentro do carro, ele é casado."

Na delegacia, a menina contou que fora convencida por uma amiga a sair com um empresário e, no dia seguinte, uma mulher lhe telefonou oferecendo mais "babados".

A adolescente listou nomes de clientes, conhecidos na cidade, e a operação começou.

DENÚNCIA

Quando a ação policial foi deflagrada, em novembro do ano passado, 20 pessoas foram indiciadas sob suspeita de corrupção de menores, favorecimento da prostituição, rufianismo (obtenção de lucro através de exploração sexual) e, em alguns casos, estupro de vulnerável.

O Ministério Público ofereceu denúncia. Mas a Justiça, um ano depois, ainda analisa se abrirá processo --e reconhece que a investigação anda a passos lentos.

Para o desembargador Rafael Romano, atual relator do caso no Tribunal de Justiça do Amazonas, o excesso de suspeitos e o fato de haver "gente conhecida" afetam os trabalhos. O caso está sob segredo de Justiça.

"O processo já passou por alguns relatores. Passa de um para outro, que diz que não quer. Tem muita gente conhecida, de colégio, deputado, tinha prefeito. Província, né? Continua a província", disse.

No final de 2012, Polícia Civil e Ministério Público estavam na fase final das investigações, quando, via ação judicial, um dos suspeitos teve acesso ao teor da operação.

Foi então que policiais e promotores aceleraram e desencadearam a operação Estocolmo, com 46 mandados de busca e apreensão. À época, dez agenciadores foram presos, mas logo liberados.

O caso tramita sob sigilo em segunda instância --passou ao TJ por haver foro privilegiado de dois suspeitos.


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