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Rosely Sayão

'Mãe, Papai Noel existe?'

A figura traz em si uma ideia: a de que alguém quer fazer a alegria de outro alguém nesse dia

O Natal está aí e muitos pais enfrentam seus filhos, que lhes fazem perguntas ou comentários incômodos: "Papai Noel existe de verdade ou é de mentirinha?" "O Mateus ainda acredita no Papai Noel, coitado. Ele não existe, não é, mãe?" "O Papai Noel é o papai, não é, mãe?".

Alguns pais não têm dúvida alguma quanto à resposta a dar a seus filhos. Dizem que ele não existe, e ponto final. Alguns até avançam fazendo comentários sobre o consumo exagerado nessa época etc. Mas o problema é que os filhos persistem nos comentários e, mesmo obtendo as mesmas respostas dos pais, voltam ao assunto com frequência.

Esse fato preocupou muito uma jovem mãe, cuja filha está prestes a fazer sete anos, porque a garota está com dúvidas e quer que sua mãe lhe garanta a existência da figura.

Mesmo com a palavra dada da mãe de que agora que ela cresceu já sabe que o Papai Noel não existe, depois de um tempo a menina refaz a pergunta de outros modos. "O que ela quer que eu responda?", me perguntou essa mãe.

Outra mãe chegou a brigar com o filho de cinco anos porque o garoto insiste na crença da figura natalina, o que a mãe não quer. "Gosto mais de falar a verdade de tudo para ele", comentou ela.

Para começo de conversa, a existência dessa figura não tem relação com a verdade, ou melhor, com a realidade. O Papai Noel é uma figura, para a criança, igual às que vivem nos contos que elas ouvem, como animais que falam, bruxas e fadas, princesas encantadas, duendes etc.

Todas são figuras míticas que habitam o imaginário da criança e que estimulam sua criatividade, intensificam emoções prazerosas e/ou dolorosas e colaboram para que muitas angústias sejam elaboradas.

Você já tentou, caro leitor, convencer uma criança de que não há monstro algum em seu quarto, à noite? Ninguém consegue se o caminho tomado pelo adulto for o da realidade. Entretanto, se a solução contemplar a fantasia e a mágica do universo infantil, fica mais fácil.

Eu sempre me lembro com muita admiração da solução que o pai de um garoto de quatro anos encontrou para acabar com o monstro que impedia o sono da família todas as noites. Depois de tentar provar ao filho que o tal monstro não existia, ele decidiu entrar na fantasia do filho. Comprou uma espada de plástico e disse ao filho que ela era mágica, feita para espantar monstros.

Deixou a espada ao lado da cama do filho e orientou o garoto a usar a espada caso o monstro aparecesse. Mágica: depois disso, a família voltou a dormir sossegada.

Com o Papai Noel é a mesma coisa. Creio que as crianças não querem uma resposta para o fenômeno, no qual elas acreditarão independentemente da postura da família. Quando elas perguntam, talvez tudo o que elas peçam seja a possibilidade de uma conversa com seus pais a respeito de seu crescimento, de suas fantasias ou até mesmo da despedida delas.

Elas querem saber, por exemplo, como substituir a figura do Papai Noel. E é importante que elas saibam que podem fazer isso, pois a figura traz em si uma ideia: a de que alguém quer fazer a alegria de outro alguém nesse dia.

Mas, para que isso ocorra, os pais precisam se interessar verdadeiramente pelo que seus filhos têm a dizer, escutar com interesse suas ideias sem moralizar, considerar suas hipóteses e, principalmente, achar que o que eles dizem é importante.


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