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Análise

Desrespeito é duplo, porque inclui a lei e também a vontade dos moradores

NADIA SOMEKH
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nos anos 70, com o boom imobiliário advindo do BNH, que financiava as duas pontas da indústria da construção civil (a produção e a venda dos apartamentos), assistimos como corolário a destruição maciça do nosso patrimônio histórico edificado.

A criação do DPH (Departamento de Patrimônio Histórico), na mesma época, e do Conpresp, em 1985, possibilitou uma reação positiva ao furor de demolição.

A criação das Z8-200, modalidade do zoneamento/tombamento, em 1975, permitiu um começo de proteção à nossa memória, mas carecemos ainda de política efetiva de preservação dos bens culturais, não só com instrumentos mais eficazes e incentivadores, prevendo penalidades adequadas, mas também com uma conscientização mais ampla da sociedade e dos empreendedores imobiliários.

Não podemos congelar a cidade, e valorizar o contemporâneo significa modernizar, dar lugar ao belo, que inclui, essencialmente, nossa memória.

É com tristeza que assistimos a destruição de um conjunto de casas da década de 1940, em processo de tombamento a pedido da própria população de Perdizes.

Isso significa um duplo desrespeito: com o conselho e com a lei, que prevê punição de crime, e com a população, que tenta defender sua história.

Ficamos mais pobres culturalmente quando perdemos nossa história. Essa frase vem se repetindo recorrentemente nas cidades e, principalmente, em São Paulo. "Da força da grana que ergue e destrói coisas belas", como canta Caetano em "Sampa".

NADIA SOMEKH é professora da FAU Mackenzie e conselheira do Conpresp

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