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Hotel dá cortesia para aliviar tensão com os hóspedes
FOLHA VERÃO Luxuoso Casa Grande, que recebeu Ivete Sangalo e David Guetta, funciona à base de caminhões pipa
Moradores de badalado condomínio pegam água "emprestada" de vizinhos que possuem um reservatório maior
Para "refrescar" os ânimos de hóspedes inconformados com a falta de água no Guarujá, o Casa Grande Hotel Resort e Spa resolveu oferecer um final de semana como cortesia ou prolongar a estadia sem custo aos clientes.
Construído em estilo colonial brasileiro, o Casa Grande é considerado um dos hotéis mais luxuosos de todo o litoral paulista. Ele fica na praia da Enseada, um dos focos mais afetados pelo desabastecimento no litoral sul.
Há 19 anos à frente do hotel, o diretor do Casa Grande, Lourival de Pieri, 60, conta que nunca viveu uma situação "tão desagradável" como essa que o Guarujá enfrenta.
Ele nega casos de hóspedes que tenham se recusado a pagar a diária, como se chegou a comentar na cidade. Diz que a cortesia, oferecida a pelo menos 20 hóspedes, é para evitar "descontentamentos com um problema que não é do próprio hotel".
A falta de água no Casa Grande começou no último dia 29, quando o hotel passou a suprir sua demanda de água com caminhões pipa.
Em três dias, comprou 40 caminhões --cada um deles carrega 30 mil litros de água e custa R$ 1.200, segundo o diretor do Casa Grande.
Com uma ampla área de lazer e spa, o hotel resort possui um reservatório com capacidade para 600 mil litros.
Pieri lembra que conseguiu estancar a falta de água por volta das 22h do primeiro dia de 2014. O uso de caminhões pipa, porém, continua por lá.
Até o final da tarde de ontem, entre oito e dez veículos se revezavam dia e noite no abastecimento do hotel.
Para evitar que o reservatório atinga níveis críticos novamente, o Casa Grande teve que encher seus caminhões em uma região mais próxima da praia da Enseada.
O diretor diz que a Sabesp se comprometeu com o hotel e com a própria Prefeitura do Guarujá em resolver o problema até amanhã, no máximo.
Neste final de semana, o hotel resort e spa, que possui 268 acomodações entre apartamentos, suítes e chalés, está com 100% de ocupação, de acordo com o diretor.
O DJ francês David Guetta, que tocou no Guarujá anteontem, esteve hospedado por lá, assim como a banda da baiana Ivete Sangalo, que iria se apresentar na noite de ontem.
Os preços das diárias variam de R$ 750 a R$ 1.800.
Na praia de Pernambuco, hóspedes de outro luxuoso hotel, o Sofitel Jequitimar, com 301 apartamentos, também relatam falta de água. Procurado, o hotel diz que não enfrenta desabastecimento nem teve que recorrer ao uso de caminhão pipa.
ÁGUA MAIS CARA
Como se não bastasse a escassez de água, moradores e turistas do Guarujá dizem que a alta procura por caminhão pipa já repercute nos preços.
Normalmente, conta a maquiadora Elvira França, 25, o preço de um caminhão pipa gira em torno de R$ 500.
"Isso em outras épocas do ano", diz ela. "Porque agora, você não consegue encontrar por menos de R$ 1.500."
Elvira tem um apartamento de 120 metros quadrados a três quadras da praia da Enseada, espécie de epicentro do desabastecimento.
No prédio dela, todos os moradores foram alertados sobre a forte crise.
"Houve uma gritaria para controlar ao máximo o consumo", diz. "Imagine com um baita calor desses, ter que controlar água", diz.
Ainda segundo a maquiadora, é comum a presença de caminhões pipa não só em hotéis e pousadas, como também em casas e prédios.
Num dos mais badalados condomínios do Guarujá, o Acapulco, caminhões pipas tornaram-se presença constante, segundo a empresária Luciana Barbosa, 50. Moradores recorrem a vizinhos com reservatórios maiores atrás de água "emprestada".
A empresária conta que água mineral "virou luxo" em Acapulco. Ela pagou R$ 22,50 por um galão de cinco litros.