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USP, 80

Empreendedorismo ainda é raridade entre os estudantes

Maioria das aulas da USP é expositiva; carga horária pesada limita tempo do aluno para ter ideias e criar

Aluno que cria o próprio negócio, como Romero Rodrigues, do Buscapé, ainda é exceção na universidade

DE SÃO PAULO

Na USP, melhor universidade do país, a maioria dos estudantes não tem perfil empreendedor, desses que criam o próprio negócio. O problema, dizem os especialistas, é que sobram aulas expositivas e faltam atividades voltadas a desenvolver ideias próprias.

"Temos de deixar os alunos mais livres para criarem soluções", diz José Roberto Cardoso, diretor da Escola Politécnica da USP.

Lá, na Poli, os alunos têm uma média de 28 horas de aula por semana. A maioria é expositiva, com o professor falando e o aluno ouvindo.

"Contando o tempo de estudo, eu fico de oito a dez horas por dia na Poli", diz Raphael Chinchilla, 22, aluno de engenharia elétrica na USP e diretor do Centro Acadêmico da Engenharia Elétrica.

Ele defende um currículo mais flexível, de modo que os alunos possam se aprofundar nas disciplinas que queiram e que sejam úteis na carreira que o estudante vai desenhar.

Chinchilla também acredita que o currículo deveria ser mais multidisciplinar. "Cursos como sociologia são raros para os engenheiros", diz.

"No exterior, é comum estudantes de exatas fazerem cursos de humanas", diz o jovem, que embarca no segundo semestre para um intercâmbio na França --organizado pela própria Poli.

Uma das exceções empreendedoras mais comentadas pelos corredores da USP é o engenheiro Romero Rodrigues, 36. Formado pela USP, ele é um dos criadores do Buscapé, site especializado em pesquisa de preços.

A ideia surgiu ainda durante a graduação, em um trabalho que ele fazia com colegas na própria USP. Hoje, a empresa tem atuação na América Latina e o grupo tem mais de 1.500 funcionários.

A sede, na avenida Paulista, tem redes de descanso, mesa de pebolim e boneco de boxe. Tudo para criar um ambiente bem inovador.

'TUDO É DIFÍCIL'

Apesar de não ter aprendido a empreender na Poli, diz Rodrigues, a passagem pela USP foi "fundamental" para o desenvolvimento da sua carreira como empresário.

"Na USP tudo é difícil. Ninguém te pega no colo e te ensina o caminho das pedras."

"Ninguém te lembra de fazer a matrícula ou que você tem prova. Você tem de ralar mesmo. E isso faz parte de ser empreendedor'."

Mesmo com o excesso de disciplinas, ele conseguiu tempo para fazer remo na própria USP. Também cursou algumas disciplinas extras ligadas à gestão e marketing na vizinha FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) da USP.

Com tudo isso, formou-se engenheiro em sete anos --o tempo regular são cinco anos.

"Não tive apoio dos professores para desenvolver especificamente o Buscapé. Mas eles me ajudavam ao compreender que eu estava trabalhando em um projeto legal e, por isso, chegava atrasado em algumas aulas."

A carreira de Rodrigues fez com que ele tenha se transformado em um ídolo na Poli. Vira e mexe ele é convidado para dar palestras.

Desde que se formou, algumas coisas já mudaram por lá. "A disciplina de empreendedorismo foi criada há cerca de dois anos", destaca Cardoso, diretor da Poli.

As coisas, claro, ainda não mudaram o suficiente. "Empreendedorismo é optativo. Com a grade pesada, muitos alunos acabam não fazendo."

O que continua igual é o excesso de aulas. Há resistência dos professores para reduzir a quantidade de cursos.

Quanto a isso, ainda não há previsão de mudança.


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