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Leão Serva

Tire sua bituca do caminho

Supondo que cada um solte no chão 5 guimbas ao dia, serão 3,8 bilhões por ano, somente na capital paulista

O ator Fábio Assunção foi multado, semanas atrás, por jogar uma bituca no chão. Foi no Rio, onde a autuação é prevista na campanha "Lixo Zero" que desde agosto vem punindo quem joga sujeira nas ruas da cidade. No caso da ponta de cigarro, considerada resíduo pequeno, o castigo é de R$ 157. Em São Paulo, as guimbas lançadas no ambiente são tantas que, se aplicasse a pena, o prefeito poderia até relaxar com a perda do aumento de IPTU.

O valor é baixo se considerarmos o estrago que essas "chicas" provocam. Descartadas acesas, são apontadas como a causa de um em cada quatro incêndios domésticos. Também provocam fogo em vegetação seca, especialmente na beira de estradas durante estiagens de inverno. Nas ruas, entopem bueiros, geram alagamentos, inundações; depois vão parar nos rios e oceanos, causando muita poluição.

Segundo estudo sobre o lixo nos mares publicado em 2009 pela Unep (agência ambiental da ONU), restos de cigarro são 25% de todos os resíduos encontrados em limpezas de praias pelo mundo, chegando a mais de 30% no Mediterrâneo, que tem o litoral mais poluído por esses detritos (não há números sobre o Brasil, porque não fazemos essas faxinas).

O mau hábito é recorrente na maior cidade do país. Com a lei antifumo de 2009, se agravou, no que parece ser um protesto silencioso e constante dos fumantes. Talvez por serem pequenas, ou por que o viciado ache que sempre haverá alguém para limpar sua sujeira, descartar "priscas" na rua é gesto automático dos fumadores.

E estes são uma multidão: 21% dos paulistanos fumam, segundo a Folha (em 4.mai.2013). Isso corresponde a 2,5 milhões de dependentes. De acordo com uma pesquisa feita pelo programa Coletor Ambiental em agosto passado, 83% deles jogam bicos nas ruas.

Supondo que cada um solte no chão 5 "baganas" ao dia, como indica o mesmo levantamento, são 10,4 milhões delas, 3,8 bilhões por ano, só em São Paulo. Multar é justo pois não se trata só de sujeira, mas de crime ambiental. Algumas "beatas" contêm plástico e metais pesados na sua composição e podem levar mais de 100 anos para se decompor.

Há um certo estatismo endêmico no ideário de brasileiros, o que leva muitos a reclamarem dos governos por problemas que eles não causam. Enquanto mira o poder público a toda hora, a população deixa impunes outros culpados de mazelas da cidade. No caso da sujeira, a responsabilidade maior é de quem suja as ruas, como é o caso dos fumantes.

Uma campanha educativa salvaria a cidade de grande quantidade de lixo. Se o apelo for reforçado por multas, tanto melhor. Com o dinheiro arrecadado a prefeitura pode reduzir impostos, aumentar as verbas destinadas à limpeza, dar empregos e fazer mais ações de conscientização. Ao mesmo tempo, o cidadão que descarta seu lixo na rua sofrerá com a punição e, quem sabe, aprenda a se portar melhor em sociedade.

A boa notícia é que ao entrar em vigor a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a partir do segundo semestre deste ano, os produtores de cigarro serão responsáveis pelo destino das "chicas". A lei determina que empresas devem recolher e reciclar os resíduos de seus produtos. Isso quer dizer que será responsabilidade das fábricas e comerciantes convencer o viciado a não jogar "bigus" na rua ou limpar o detrito.


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