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Com as próprias mãos

Linchamentos de suspeitos de crimes se espalham pelo país; para sociólogo, sociedade está sem controle

JULIANA COISSI RICARDO GALLO DE SÃO PAULO

Tudo começou com um adolescente acusado de assalto agredido a pauladas e acorrentado nu a um poste, há 20 dias, no Flamengo, Rio.

Desde então, casos de justiçamentos surgiram em todo o país --e ganharam enorme repercussão em vídeos divulgados nas redes sociais.

Só na segunda e na terça-feira houve três agressões a criminosos em Goiânia. Vídeos surgiram com suspeitos subjugados também no Piauí e em Santa Catarina.

A multiplicação de casos suscita preocupação.

"A sociedade civil está ficando progressivamente descontrolada", diz o sociólogo José de Souza Martins, professor aposentado da USP, que há mais de 20 anos documenta linchamentos no país.

Houve, de acordo com ele, uma "ligeira intensificação de ocorrências".

Há atualmente uma média de um linchamento por dia no Brasil, ante quatro por semana anteriormente, afirma Martins.

Ele observa uma inflexão dos casos em direção ao interior do país; havia uma tendência de concentração em São Paulo, no Rio e na Bahia.

TÁ QUEIMANDO

No Piauí, por exemplo, um vídeo divulgado por TVs locais e pela internet mostra um homem com os pés e as mãos amarrados e colocado sobre um formigueiro após tentativa de assalto.

"Aiii, meu Deus, ai, tá queimando", diz o homem, com rosto já inchado. "Agora lembra de Deus, né? Na hora de tu roubar tu não lembra", diz um dos participantes da agressão.

A Secretaria de Segurança local apura o caso, que foi no bairro Dirceu, no fim de semana. Diz que ainda não identificou os autores do vídeo nem o torturado.

Por trás dos casos há, continua Martins, uma crescente descrença nas instituições, o que potencializa os linchamentos. Reduzi-los dependeria, diz, de a polícia ser mais eficiente ao deter criminosos e de a Justiça ter agilidade ao julgá-los e condená-los.

"Sabemos que a população se sente insegura, mas ela não pode fazer Justiça com as próprias mãos e engrossar as estatísticas de violência", disse o presidente da OAB de Goiás, Henrique Tibúrcio.

Ele fazia referência aos três casos seguidos em Goiânia.

O primeiro deles foi na segunda, com um adolescente de 16 anos flagrado tentando roubar uma moto por trabalhadores de uma obra. O grupo amarrou os braços do rapaz em uma barra de aço.

Várias pessoas o agrediram antes da chegada dos policiais, diz a PM. À Polícia Civil o adolescente afirmou ter levado só um chute.

Na terça, Altenor Faria, 32, foi espancado por moradores, também na capital goiana. Segundo a polícia, ele invadiu uma casa, tentou fugir, mas foi agarrado por vizinhos. Em um vídeo, leva chutes e é arrastado. Foi hospitalizado.

Na terça à tarde, segundo a polícia de Goiás, Israel Moraes, 20, roubou a bolsa de uma mulher e fugiu de carro. Três motociclistas perseguiram o veículo, que bateu noutro carro. Rendido, Moraes levou uma surra.

Em outro vídeo, de Santa Catarina, uma idosa de 70 anos bate, com tapas em chineladas, em um jovem de 18 que, diz ela, lhe roubou a bolsa. O rapaz, amarrado, apanha ao lado de homem, que lhe chama de "vagabundo".


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