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Alegorias
Crônicas da folia - JOÃO GORDO
Vou beijar-te agora
Passar o feriado no cemitério é mó deprê, mas me faz lembrar que São Paulo é túmulo do samba
É Carnaval, quatro dias de alegria sem sentido, válvula de escape para a população sempre à beira de um colapso social.
Mortes, crimes, acidentes de trânsito, putaria e consumo sem limites de drogas e álcool podem levar o folião a fazer sua folia no inferno.
Mal começou a farra, um playboy atropelou dez pessoas outro dia aqui na Vila Madalena. Ora, supernormal, isso é só o começo! Mas, pior que fazer parte das estatísticas de vítimas carnavalescas, é ver meninas menores de idade candidatas à vida eterna pós-carnaval nas clínicas de aborto clandestinas espalhadas por esse matadouro chamado Brasil.
Passar o feriado no cemitério é mó deprê, mas me faz lembrar que São Paulo é túmulo do samba --e também o berço do funk ostentação, porque ostentar o que não tem sempre foi o principal estandarte do luxo das escolas de samba.
Aí vira um círculo vicioso de "pão e circo", mas só que sem o pão. E como se descola o pão? Metendo "os ferro" ou se endividando no cartão? Mas tem que ser pão de marca, hein?
Como dizia Joãosinho Trinta: pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual.
Mas, para mim, quem gosta de miséria é político, e um pobre bem "exploradinho" mantido na escuridão da ignorância é um ótimo cabo eleitoral.
Vou beijar-te agora, não me leve a mal, mas... Foda-se o Carnaval.