Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Entrevista Christopher Stone

Violência policial tem de ser escândalo dentro da polícia

Para presidente da Open Society Foundations, policial deve resistir ao apelo político de diminuir crimes infringindo as leis

PAULA LEITE EDITORA DO EMPREENDEDOR SOCIAL

A redução da violência policial no Brasil não acontecerá sem a participação de líderes de dentro da polícia, afirma Christopher Stone, presidente da Open Society Foundations e especialista em Justiça criminal.

"As imagens de uma mulher [Cláudia Ferreira, baleada em confronto no morro da Congonha, no Rio] sendo arrastada por um carro de polícia têm de ser um escândalo dentro da polícia também", diz o norte-americano. "Têm de haver líderes que digam: Nós não somos assim'."

A Open Society Foundations, fundada pelo megainvestidor George Soros, é um conjunto de fundações que financia projetos em áreas como direitos humanos, liberdade de imprensa e educação. É uma das maiores organizações não-governamentais do mundo, tendo investido mais de US$ 10 bilhões em 30 anos de existência.

Stone veio a São Paulo para o Congresso Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) e falou à Folha.

-

Folha - O Brasil tem discutido muito a violência policial depois dos protestos e de casos recentes como o de Amarildo e de Cláudia. Como reduzir a violência policial?

Christopher Stone - A polícia, assim como o Exército, não é uma instituição naturalmente democrática. Tem de haver uma mudança de cultura que requer uma liderança forte dentro da polícia.

O que aconteceu nos protestos é um sinal positivo: a violência policial no Brasil tem sido um escândalo internacional há anos e é bom que esteja se tornando um escândalo no Brasil também.

Eu acho que, se a polícia aqui for como a polícia de outros lugares, vai se tornar um escândalo dentro da corporação também. Tem de haver líderes que digam: "Nós não somos assim".

O comportamento policial reflete o fato de que alguns acreditam estar fazendo o que é esperado deles?

Ser um policial em qualquer sociedade democrática significa receber uma mensagem ambígua: você ouve que deve ser responsável e seguir a lei, mas quando o crime começa a aumentar você tem de fazer o que for necessário. Os policiais muitas vezes culpam os políticos por quererem as duas coisas.

A polícia tem de resistir a essa mensagem dúbia dos políticos e agir dentro da lei.

E não é uma questão de ser tolerante com o crime: as vítimas reais do crime são os pobres, os marginalizados, as mesmas pessoas que também são vítimas da violência policial. Responder com eficácia ao crime é do interesse de todos, não só da elite ou da classe média.

O que você acha da experiência das UPPs?

Há muitas coisas positivas nas UPPs, como a noção de que você precisa de unidades especializadas com novos recrutas, que você precisa estar mais perto das comunidades e conhecer as pessoas.

Um erro frequente com esse tipo de experiência é que o sucesso do começo é perdido quando se continua por muito tempo da mesma forma.

Prisões também são um escândalo recorrente. É possível ter prisões mais humanas?

Eu acho que há três fatores problemáticos no Brasil. Um é que a condição física das prisões é uma fonte de tortura e desordem. Outro é a gestão dos agentes carcerários. É um emprego do qual muitos não gostam e no qual muitos abusos são tolerados ou até encorajados. Gerir um serviço prisional de forma profissional é um grande desafio.

O terceiro é o número de presos: a população carcerária está aumentando muito rapidamente. É preciso investir na infraestrutura, nos profissionais e reduzir o número de presos, mas não é fácil.

O número crescente de presos tem a ver com o tráfico de drogas. Uma legislação melhor poderia fazer a diferença?

Com certeza. A política antidrogas tem piorado a situação inutilmente em vários países. O sofrimento de centenas de milhares de pessoas devido à proibição das drogas é um dos grandes escândalos das últimas décadas.

Há sinais positivos de que líderes e cidadãos na América Latina e em outras partes do mundo estão começando a entender a futilidade de usar a estrutura da Justiça criminal para responder ao vício em drogas.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página