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Facção criou rede de tráfico no exterior

Criminosos do PCC eliminaram atravessadores e trazem do Paraguai e da Bolívia drogas para o mercado nacional

Segundo investigações, facção também se associou a traficantes internacionais para vender para a Europa

Divulgação/Senad Paraguai
Armas de traficantes brasileiros apreendidas no Paraguai
Armas de traficantes brasileiros apreendidas no Paraguai

MARCO ANTÔNIO MARTINS
ENVIADO ESPECIAL A PEDRO JUAN CABALLERO (PARAGUAI)
ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO

A facção criminosa paulista PCC (Primeiro Comando da Capital) assumiu a venda de drogas a partir do Paraguai e da Bolívia para o Brasil, apontam investigações da polícia brasileira e de autoridades sul-americanas.

Elas descobriram que, a partir desses países, o grupo abastece de maconha e cocaína o mercado nacional.

A quadrilha é investigada ainda por se associar a traficantes internacionais e vender cocaína a Portugal, Alemanha e Itália, usando portos na Argentina, Uruguai e Chile para exportar a droga.

O PCC também estaria envolvido na venda de drogas produzidas na Colômbia e no Peru, a partir da Bolívia.

O crescimento da facção criminosa rumo ao exterior começou em 2008. Naquele ano, a organização percebeu a oportunidade de assumir o negócio com os produtores de maconha, no Paraguai, e de cocaína, na Bolívia.

Até então, Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, era um dos poucos criminosos que havia quebrado essa barreira.

Segundo processos analisados pela Folha e os depoimentos de policiais e promotores, o PCC é a primeira facção criminosa do país a acabar com atravessadores.

"Eles eliminaram intermediários e alcançaram um patamar de grandes traficantes. Hoje, o PCC é crime organizado e tem muito poder", diz o adido policial no Paraguai, Antonio Celso dos Santos.

Segundo o senador paraguaio Robert Acevedo, em Pedro Juan Caballero, fronteira com o Brasil, o PCC se uniu a Peter Quevedo, em 2008, que dominava a venda de maconha. Em seguida, a facção o matou e assumiu o negócio.

EMPRESA

Controlar a venda de drogas "na fonte" significa acabar com o custo dos atravessadores. Por um quilo de cocaína, os criminosos pagam R$ 4.000 aos produtores. Com intermediários, o valor pode ultrapassar R$ 6.000.

"É uma empresa. Ela quer dominar todas as fases", diz o delegado Ivo Roberto da Silva, da Polícia Federal.

No Brasil, segundo a Promotoria, o PCC tem pontos de vendas e coordenadores ("pilotos" ou "sintonias") nos 27 Estados. Investigações apontam "sintonias" no Paraguai e Bolívia, que seguem ordens da cúpula da facção presa na penitenciária 2 de Presidente Venceslau (a 620 km de SP).

São sete os responsáveis pela facção. Entre eles, Marcos Herbas Camacho, o Marcola, e Júlio César de Moraes, o Julinho Carambola.

Um dos principais chefes do PCC na fronteira é o paraguaio Carlos Antônio Caballero, o Capilo. Ele cumpre pena no Presídio Regional, em Pedro Juan Caballero.

O local é o mesmo de onde seis integrantes do PCC foram resgatados por 15 homens. Entre eles, criminosos que tentaram matar o senador, em 2010.

Na Bolívia, o PCC chegou em 2008. Num relatório obtido pela polícia, o tesoureiro da facção, Wagner Raposo Olzon, descreve o objetivo ao chegar ali: conseguir uma tonelada de cocaína.

Processo na 3ª Vara Federal de Campo Grande (MS) mostra que José Severino da Silva, o Cabecinha, comprou uma fazenda no país, de onde mandava cocaína. O ganho era investido em MS.

A Justiça determinou o sequestro de bens e apreensão de mais de R$ 1 milhão em contas bancárias da facção.

'ESTADO FORTE'

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reconhece a necessidade de ações integradas com países vizinhos para combater o tráfico.

Segundo ele, ações recentes no Paraguai e Peru resultaram em êxito. "O Estado brasileiro é muito mais forte que o crime organizado."

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