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Haddad usa ato de sem-teto para pressionar vereadores
Alvo de protesto, prefeito promete terreno se Câmara aprovar Plano Diretor
Petista sobe em carro de som e aceita ceder área de preservação para moradia; ação é demagogia, diz opositor
Alvo de um protesto de sem-teto que interditou importantes vias de São Paulo durante nove horas, o prefeito Fernando Haddad (PT) subiu ontem no carro de som dos manifestantes e condicionou o atendimento das principais reivindicações do grupo à aprovação do Plano Diretor pelos vereadores.
Sob pressão, o petista admitiu destinar uma área de preservação ambiental da zona sul para moradia popular.
Aproveitou a ocasião para tentar se reconciliar com os sem-teto, que o atacavam desde sua posse, e passou a contar com os manifestantes para pressionar a Câmara.
A intervenção do petista levou o protesto --que contou com 3.000 sem-teto, segundo a PM-- para a porta do Legislativo municipal, motivando críticas da oposição.
A presidência da Câmara foi mobilizada para receber o grupo e oferecer garantias de que o Plano Diretor será votado até meados de maio.
O projeto foi apresentado ontem pelo vereador Nabil Bonduki (PT) e define diretrizes urbanísticas consideradas estratégicas pela gestão petista para viabilizar promessas de campanha.
O prefeito prometeu aos sem-teto que, se o plano for aprovado, ele vai revogar um decreto que prevê hoje outra destinação para a área.
Chamado de Nova Palestina, esse espaço do Jardim Ângela é atualmente o maior acampamento de sem-teto da cidade, com 8.000 famílias.
O terreno fica em área de preservação, daí ter sido destinado à criação de um parque pela gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD).
O vereador Ricardo Young (PPS) chamou a iniciativa de Haddad de demagógica.
"O governo não entra em confronto com nenhum movimento para não desgastar o prefeito", disse. "Não dá para prejudicar a parte ambiental em função do social."
Antes de passar pela prefeitura e pela Câmara, os sem-teto bloquearam vias movimentadas, como Faria Lima, Rebouças e Consolação, agravando os congestionamentos.
'SERÁ REVOGADO'
O projeto do Plano Diretor propõe mudar a situação da área de zona de proteção para uma zona de interesse social --que permite combinar preservação com habitação.
O terreno da Nova Palestina, de 1 milhão de m², é privado, mas, segundo o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), os donos aceitam negociá-lo. Construir ali, no entanto, depende de mudar o status da área.
"A demanda de vocês depende da aprovação do Plano Diretor para transformar a área numa Zeis [Zona Especial de Interesse Social]. Quero dizer que o decreto [que destina o terreno a um parque] será revogado na mesma oportunidade da aprovação do Plano Diretor", disse Haddad, do alto do carro de som.
Desde que a Nova Palestina se instalou no terreno, Haddad vinha defendendo que ali fosse feito um parque. A série de negativas gerou desgastes com o MTST.
"Ali há mata atlântica nativa. A área é vizinha à represa Guarapiranga. Qualquer ocupação compromete o abastecimento", diz o vereador Gilberto Natalini (PV).
Os sem-teto argumentam que parte do terreno invadido já está degradada e que todo o entorno é área verde.