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Ipea erra e diz que 26%, e não 65%, apoiam ataque a mulher

Resultado errado chocou o país e mobilizou até Dilma em protesto virtual

Instituto, que pertence ao governo federal, pediu desculpa e disse que gráficos foram trocados por engano

DE SÃO PAULO DE BRASÍLIA

A pesquisa sobre violência contra a mulher que chocou o país e provocou indignação até da presidente Dilma Rousseff (PT) está errada, reconheceu ontem o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), do governo federal.

O instituto afirmou serem 26%, e não 65,1%, os brasileiros que apoiam ataques a mulheres que mostram o corpo. O erro, diz o instituto, ocorreu por uma troca nos gráficos da pesquisa "Tolerância Social à Violência contra Mulheres", divulgada no dia 27.

Em nota, o Ipea se desculpou e informou que o diretor da área social, Rafael Osorio, pediu demissão.

Corrigidos, os resultados do levantamento apontam que 70% dos brasileiros discordam, total ou parcialmente, da afirmação "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Além dos 26% que concordam, em parte ou totalmente, 3,4% se dizem neutros.

Outro estudo do Ipea feito em 2011 mostrava resultado parecido ao agora corrigido. Na pesquisa "Valores e Estrutura Social no Brasil", 31% concordaram com a ideia de que mulheres que usam roupa provocante têm culpa se forem estupradas.

Nos nove dias entre a divulgação e a correção do resultado, a pesquisa provocou uma onda de revolta nas redes sociais, em entidades feministas e de defensores dos direitos humanos.

No Facebook, centenas de mulheres publicaram fotos de si próprias nuas, cobrindo os seios com os dizeres "Eu não mereço ser estuprada".

O ato foi uma iniciativa da jornalista Nana Queiroz, 28, que lançou o protesto virtual.

Dilma manifestou apoio ao protesto e declarou, no Twitter, repúdio a ameaças sofridas pela jornalista: "Nenhuma mulher merece ser vítima de violência, seja física ou sob a forma de ameaça".

Com a campanha, mulheres compartilharam relatos de estupros que sofreram no passado, e proliferaram denúncias anônimas de apologia e de incitação à violência contra a mulher na internet.

A ONG Safernet recebeu 4.872 notificações desse tipo só na última semana.

OUTRAS FALHAS

Mesmo antes de o Ipea reconhecer o erro na pesquisa, a Folha já havia apontado problemas com a amostra e a metodologia utilizadas pelo levantamento --que ouviu 3.810 pessoas de 212 municípios entre maio e junho.

A amostra abrangeu 66,5% de mulheres, quando na população em geral elas representam 51%. Também teve mais idosos: na pesquisa, eles são 19,1%; no Censo de 2010, são 10,7%.

"Os jovens, que tendem a pensar diferentemente dos mais velhos em especial quanto à sexualidade, estão subrepresentados", diz a psicóloga Rachel Moreno, especialista em pesquisas de opinião.

Para contornar essa deformação, institutos usam o recurso de ponderar a base de respostas. Se há mais mulheres, a quantidade de respostas delas sofre uma espécie de desconto, para que não pesem mais do que as dos homens.

Isso não foi feito nessa pesquisa, disse o Ipea à Folha.

Raquel considera que há outro problema mais grave. "Houve uma demora de um ano para a divulgação. Pesquisas de opinião precisam ser publicadas assim que feitas, pois a percepção dos entrevistados é influenciada pelos episódios da atualidade."


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