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Erro não descredencia pesquisa, diz Ipea

Para presidente do instituto, levantamento expõe números preocupantes em relação ao machismo no Brasil

Organizadora de protesto virtual diz comemorar cenário não tão ruim, mas afirma que 26% ainda é alto

TAI NALON DE BRASÍLIA LEANDRO MACHADO DE SÃO PAULO

O presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcelo Neri, disse que o erro cometido na pesquisa sobre violência sexual contra mulheres não descredencia o órgão nem a própria pesquisa.

Em entrevista à Folha, Neri afirmou que a sondagem ainda expõe números preocupantes com relação ao machismo no Brasil.

"Os resultados mudam em grau, mas não no teor da pesquisa. O Ipea é vítima do sucesso da pesquisa. Os 65% não tinham sido nem destacados, mas chamaram a atenção, com razão", diz.

Ele cita um dado que permaneceu o mesmo: 58,5% concordaram que, se as mulheres soubessem se comportar, haveria menos estupros.

Para Neri, o número denuncia uma sociedade "problemática", mas "irrequieta". "A impressão é que as cicatrizes mudaram de lugar, mas continuam presentes", afirma.

O presidente do Ipea refuta que tenha havido qualquer falha de procedimento na elaboração da pesquisa.

Ele considera "corriqueiras as críticas contra as perguntas da pesquisa" --se, por exemplo, o termo "atacadas" e "estupradas" demandam interpretações distintas.

Ele disse que a amostragem, também questionada por especialistas, não precisa de ajustes.

"A amostra de uma pesquisa domiciliar tem seus problemas, mas é bem-feita. Se existissem mais mulheres, atenuaria o problema. Se existissem mais homens, denunciaria um problema ainda mais grave."

"Foi um erro. Erros acontecem. Tal como sai no jornal uma resposta a um dado errado, saiu do Ipea essa errata", finalizou Neri.

Após a divulgação da errata do Ipea, a organizadora do protesto on-line #Nãomereçoserestuprada, Nana Queiroz, 28, disse ontem "estar feliz" com o erro no estudo.

No entanto, ela pondera: segundo o novo dado do órgão do governo federal, um em cada quatro brasileiros ainda acredita que a roupa da mulher justifica ataques.

"A gente está celebrando o erro porque o cenário não é tão ruim quanto imaginávamos. Mas não quer dizer que os 26% sejam bons. Precisamos lutar para que seja zero."

Na semana passada, após a divulgação oficial do levantamento, a jornalista organizou um protesto virtual contra o machismo no país.

Milhares de mulheres publicaram no Facebook fotos sem roupa, da cintura para cima, com cartazes cobrindo os seios e frases como "Eu não mereço ser estuprada".

Minutos depois de publicar sua foto, Nana foi ameaçada de estupro e até de morte em posts na web. A presidente Dilma Rousseff se solidarizou com ela em sua conta pessoal no Twitter.

AMEAÇAS

Ontem, Nana visitou a sede da Polícia Federal em Brasília, onde mora. A instituição está tentando identificar os autores das ameaças.

"Não podemos usar esse erro para tentar minimizar a legitimidade da luta contra a violência à mulher", diz Juliana de Faria, 29, criadora da campanha "Chega de Fiu Fiu" e autora de um blog.

Para a secretária municipal de Políticas para as Mulheres de São Paulo, Denise Motta Dau, o erro da pesquisa é uma boa notícia.

"Que bom que o número é menor, mas isso não diminui o fato de que muitas mulheres são estupradas, espancadas e assassinadas", diz.


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