Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Entrevista Mauro Arce

Rodízio de água é o pior dos mundos para todos

Secretário de Alckmin descarta racionamento até março de 2015 e diz que ninguém reclamou de atraso em obras

EDUARDO GERAQUE HELOISA BRENHA DE SÃO PAULO

Nomeado secretário pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) no início de abril, em plena crise de abastecimento da Grande São Paulo, Mauro Arce é categórico ao afirmar que não há risco de racionamento de água pelo menos até março do ano que vem.

O novo titular da pasta de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado diz que a implantação de um rodízio "é o pior dos mundos para todo mundo e em particular para os consumidores".

A crise da água preocupa Alckmin, que tentará a reeleição em outubro e vê o tema começar a ser explorado na pré-campanha do adversário Alexandre Padilha (PT).

O secretário afirma que a utilização do "volume morto" (reserva de água profunda nas represas), prevista para começar no dia 15, e a contribuição da população com a economia de água serão suficientes para garantir o abastecimento até 2015.

Arce diz que a sobretaxa de 30% na conta de água vai valer a partir de junho para quem gastar qualquer gota a mais em relação à média mensal de consumo de 2013.

O secretário admite que São Paulo não conseguiu, nos últimos dez anos, diminuir a dependência do sistema Cantareira --que ontem estava com 10,4% de sua capacidade, o mais baixo nível da história. O Estado é governado pelo PSDB desde 1995.

"Foram tomadas providências. Mas elas ainda não foram concluídas. Poderia ter sido feito antes, mas ninguém reclamou", afirma Arce.

Ele diz estar "torcendo" para que haja uma chuva atípica fora do verão, como a que ele enfrentou em maio de 2005, na condição de secretário da mesma pasta.

À época, a marginal Tietê foi inundada logo após o Estado anunciar que as pistas da via não teriam enchentes por décadas devido às obras recém-realizadas de rebaixamento da calha do rio.

Leia a seguir trechos da entrevista concedida ontem.

Folha - Haverá racionamento de água em SP? Quando?

Mauro Arce - Depende do que chamamos de racionamento. Quando se fala nisso, parece que quer dizer rodízio ou corte. O que está havendo é uma racionalização da demanda. No sistema Cantareira, conseguimos uma redução de 6,2 metros cúbicos por segundo. Essa economia equivale a um racionamento de 48 horas [sem água] por 48 horas [com água].

O resultado do bônus [desconto de 30% para quem economiza 20% de água] é extremamente importante nesse cenário. Está ocorrendo uma evolução no número de pessoas que aderiram. Mas, evidentemente, temos um prazo.

Se o plano de usar o "volume morto" der certo, não teria racionamento até março?

Não teria. Isso considerando o pior cenário possível em termos de chuva. E continuando com a racionalização que estamos fazendo. Dos 84 anos de estatísticas, janeiro e fevereiro foram os piores meses da série, é absurdo. Pegamos o pior cenário.

O abastecimento, então, está garantido neste ano?

O rodízio é o pior dos mundos para todo mundo e em particular para os consumidores. Altero a vida das pessoas, desligo a água. Na hora que volta, nunca se sabe. Teria que pressurizar, pois tem gente que mora mais alto. Haveria casos de se usar caminhão-tanque, porque já era para a água ter voltado, mas ela não voltou.

Outra ponto complicado é que não posso cortar água em hospital. Por exemplo, a av. Paulista está fora. Privilegio os hospitais e ao mesmo tempo privilegio um monte de consumidores que só porque moram ao lado do hospital.

Se o rodízio for decretado, tem outro problema. Todo mundo que está economizando água, ganhando bônus, vai deixar de fazer isso.

Quando começa a cobrança da sobretaxa na conta de água e como ela será feita?

Se aumentou o consumo, enquanto o esperado era que não aumentasse, a pessoa vai pagar. Agora, nasceram trigêmeos. Então vamos considerar caso a caso. O aumento será comparado com a média mensal de consumo do ano passado. Devemos começar a cobrar em junho.

O consumo, na última década, cresceu muito mais do que a oferta de água. Houve erro de planejamento?

Muitas obras foram feitas nesse período. A região [metropolitana de SP] cresceu de forma assustadora, e não tem área para manancial novo. Se São Paulo tivesse sido construída na foz do Tietê, perto de Ilha Solteira [no interior paulista], não estávamos discutindo aqui [a falta de água].

Houve uma busca por soluções, e é caro fazer isso. Quanto ao futuro, há a interligação com o Paraíba, o sistema São Lourenço, mas são quantidades pequenas de água.

Em 2004, havia uma recomendação de se diminuir a dependência do sistema Cantareira. Isso foi feito?

Foram tomadas providências. Mas elas ainda não foram concluídas. Poderia ter sido feito antes, mas ninguém reclamou. Quando falo isso, é no bom sentido.

Em geral, [há resistências] quando se vai fazer um reservatório. Todos falam que vai encher de gente lá, vai ter pescaria e muita desapropriação. Mas estamos fazendo.

Na região metropolitana de SP, o abastecimento sempre dependerá das chuvas?

Em maio de 2005 houve uma grande enchente no rio Tietê. Desci de helicóptero lá, estava tudo inundado. Se vai perguntar se estou torcendo por isso? A chuva é importante de um modo geral.

E se não chover após se usar todo o "volume morto"?

Eu não sei, nossa hipótese é bem conservadora. Cabe a pergunta, mas a probabilidade de isso ocorrer é mínima.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página