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Moradores caçam incendiário de favela

Incêndio destruiu 180 barracos na região central de São Paulo; uma pessoa morreu e 500 ficaram desabrigadas

Aos gritos de 'lincha, lincha', moradora foi acusada de ter provocado o incêndio; ela foi tirada pela GCM

Lalo de Almeida/Folhapress
Fumaça de incêndio na favela do Moinho, em Campos Elíseos, região central de São Paulo, que destruiu parte dos barracos e um prédio abandonado
Fumaça de incêndio na favela do Moinho, em Campos Elíseos, região central de São Paulo, que destruiu parte dos barracos e um prédio abandonado

LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULO
MARINA GAMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Às 18h de ontem, a favela do Moinho, Campos Elíseos, centro de São Paulo, até então silenciosa e triste, depois de um incêndio que destruiu um terço de seus 528 barracos, foi tomada por um só grito: "lincha, lincha, lincha".

A multidão raivosa, umas 200 pessoas, arrastava pela viela principal, toda elameada, uma mulher esquálida, branca, cabelos arreganhados e uma improvável peruca de palhaço Bozo.

"Andréia" seria o nome da moça, supostamente dependente de crack que, todos ali tinham certeza, foi quem provocou o incêndio na favela.

Até o fechamento desta edição, contava-se um morto, três feridos e mais 500 moradores sem casa, como saldo da tragédia.

"Eu toquei fogo no barraco, eu toquei fogo." Vários moradores escutaram quando, por volta das 9h, a mulher, correndo pelo lugar, anunciou o incêndio.

"Ela já havia feito isso outra vez, sem maior gravidade. Mas, 20 minutos depois desse aviso louco, as labaredas já tomavam conta de todo um lado de um prédio abandonado, no meio da favela", disse um morador.

A mulher foi reconhecida quando tentava se esconder em um barraco. A notícia percorreu a favela como um raio. A multidão só parou quando ouviu o grito: "Ninguém toca nela. E acabou."

Era Humberto da Rocha, coordenador da Associação de Moradores. Montou-se um cordão de isolamento que segurou os quase linchadores -mulheres, idosos, crianças entre eles. "Andréia" foi entregue à Guarda Civil, que a retirou do lugar. "Não faz parte de nós tomar esse tipo de atitude", explicou o líder.

A favela do Moinho tem dois tipos de ocupação (uma, de barracos no chão; outra, de habitações precárias instaladas dentro do prédio abandonado do Moinho Matarazzo). O fogo começou no térreo do prédio.

Moradores disseram que os bombeiros demoraram pelo menos uma hora para atender a emergência. "Assim que começou o fogo, eu liguei para o 193, mas só dava ocupado", disse a catadora de papel Meire da Piedade Abreu. "Então, liguei para o 190, da polícia, que me mandou ligar para os bombeiros". Os soldados do fogo, diz, chegaram às 10h. Vários moradores corroboraram a versão.

Segundo o tenente Marcos Palumbo, a primeira chamada do incêndio foi recebida às 10h08. "Às 10h14, já havia uma viatura de água no local", disse. Ele diz que em menos de dez minutos eram ao menos quatro carros no local.

O vento forte e o material inflamável dos barracos espalharam o fogo, que atingiu área de 6.000 m2. A fumaça podia ser vista a 15 km de distância, de Congonhas.

O incêndio foi controlado após duas horas e meia. O prédio agora evacuado pode desabar. Só hoje os bombeiros entrarão no local, já resfriada a estrutura.

Duas pessoas pularam do edifício. O guarda civil Almeida foi quem socorreu um deles, um homem de 65 anos. "Quando peguei no braço dele, a pele saiu na minha mão", disse. Foi levado para a Santa Casa, no centro. Um bombeiro feriu-se.

Helicópteros da PM resgataram 11 pessoas que procuraram abrigo no topo do prédio atingido pelas chamas. O prefeito Gilberto Kassab (PSD) disse que sempre houve intenção de retirar a favela do local, mas que, agora, com o incêndio, isso se tornou prioridade. "Vamos fazer imediatamente."

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