Índice geral Cotidiano
Cotidiano
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Bichos

JAIME SPITZCOVSKY - jaimespitz@uol.com.br

Caleidoscópio, hipnose e bizarrice

Outro dia recebi fotos do que seria uma moda entre endinheirados chineses: pintar seus cachorros

Pesquisas e suposições enfileiram extenso cordão de explicações sobre o fascínio humano pelo universo animal. Várias delas certamente ajudam a desvendar meu caso, mas, para justificar a paixão, gosto de destacar também um aspecto: a companhia de bichos de estimação me leva a uma espécie de processo hipnótico. Não raro, fico extasiado ao observar a inigualável plasticidade deles. São absolutamente admiráveis. Exuberantes obras de arte.

Costumo brincar dizendo que não existe cachorro feio. Há os mais e os menos bonitos. No primeiro grupo, enquadro, sem pestanejar, os samoiedas. Convivo com três desses siberianos e, ao longo da vida, já tive outros quatro. Garbosos, desfilam uma pelagem espessa, branca, a rodear seus expressivos olhos escuros. Carregam uma marca registrada, de lábios que parecem em permanente sorriso, responsáveis pelo apelido, nos EUA, de "smiling dogs" (cães sorridentes).

A estética apurada não se limita aos portadores de pedigree. Tenho uma vira-lata, a Francesca, dona de pelagem alva e com manchas pretas simétrica e meticulosamente desenhadas. Parecem feitas a nanquim. Ela convive com o Lucky, outro sem raça definida, com pelos de um marrom brilhante e olhos no tom verde aquático.

Gosto também de esquadrinhar meus furões. São parentes das lontras e das doninhas, com a abissal diferença de serem domesticados. No apartamento, Sol, Lua e Estrela dividem uma gaiola espaçosa, embora adorem se amontoar para dormir. Têm uma carinha perigosamente sedutora, e a espécie oferece abundante variedade de padrões de pelagem. Nenhum boneco de pelúcia "made in China" rivaliza com eles no quesito sedução.

A hipnose me captura com muita frequência diante do aquário. No apartamento, tenho a companhia de um pequeno cardume de acará-disco, com origem em águas amazônicas e que hoje apresenta uma variedade imensa de cores vibrantes. Tempero ainda o painel aquático com tons de rosa e de cinza, por exemplo, ao completar com outros peixes.

Minha fauna contempla também as irmãs Lili e Popó, coelhas da raça fuzzy lop e moradoras do sítio. Aos saltos, chacoalham charmosas orelhas caídas e pelagem perfeita, nas cores variadas e na densidade. Aninham-se no meu colo em raros momentos de placidez e em troca de um lento acariciar.

O caleidoscópio de cores animais impressiona. Se é assim, para que tingir, por exemplo, a pelagem dos cães? Outro dia recebi fotos do que seria uma moda entre endinheirados chineses: pintar o amigo de quatro patas para ele se parecer com outro animal. Golden retriever vira tigre, chow-chow se transforma em panda.

O resultado é bizarro. Muitas cores do mundo animal já ganharam novas telas ou novos tons devido à intervenção humana. Agora, pintar uma espécie para ela mimetizar outra ultrapassa os limites do bom gosto e do bom senso.

AMANHÃ EM COTIDIANO
Francisco Daudt

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.