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Rosely Sayão

Brigas na adolescência

Os filhos nessa fase querem descobrir quem são eles e, para inaugurar o processo, fazem oposição aos pais

Tive uma conversa com uma jovem mãe, muito comprometida com a sua função e muito bem-humorada. Ela tem três meninos, hoje entre 7 e 12 anos, e um marido com quem compartilha todas as tarefas domésticas e compromissos com os filhos.

"Sou uma sortuda", costuma dizer ela, ao explicar que o marido não a ajuda apenas; ele se responsabiliza junto com ela por tudo o que diz respeito à vida familiar.

Os meninos adoram futebol, como o pai, e ela sempre achou muito saudável a relação entre os quatro, mediada pelo esporte. As crianças e o pai torcem para times diferentes, e isso sempre foi motivo para brigas de faz de conta, provocações e piadas entre eles. Pelo menos até agora.

Surgiu um problema que tem se agravado com a proximidade da Copa, porque o filho mais velho agora tem levado as discussões sobre futebol com muita seriedade. Por esse motivo, ele e o pai têm entrado em confrontos nada saudáveis, na opinião da mãe. "Antes, em casa, havia três crianças e um homem. Agora, há duas crianças e dois moleques", arrematou ela.

Mas é assim mesmo: ao final da infância, os filhos mudam e isso significa, para os pais, o estabelecimento de outro tipo de relação com eles. As brigas dos pais com os filhos que são crianças resultam principalmente de teimosia e de desobediência, não é? Já com os filhos adolescentes ou quase lá --o filho de nossa leitora tem quase 13 anos--, resultam de tomadas de posição dos jovens.

Nesse período, os filhos precisam descobrir quem são eles a partir de então, como se posicionam frente ao mundo e às coisas da vida, o que pensam etc. E, inicialmente, a maneira que encontram para inaugurar esse processo é fazendo oposição aos pais.

Você conhece, caro leitor, a expressão "aborrescente"? Ela, provavelmente, foi criada por adultos que não tiveram sensibilidade para compreender o processo da passagem do filho da infância para a adolescência. Nesse momento, os jovens vivem uma crise, que pode ser muito produtiva para eles se os pais bancarem essa nova fase. E, para isso, é preciso muita maturidade.

É que não é mesmo fácil superar todos os questionamentos que eles fazem em relação a tudo, nem a aparente arrogância --um modo que eles têm de se proteger de toda a insegurança que sentem--, a teimosia permanente, a instabilidade e a impulsividade. Mas é justamente por isso que eles precisam de um ambiente familiar acolhedor e seguro para tudo o que vivem.

Sim, eu sei que, no cotidiano, isso pode se transformar em um clima infernal, o que parece estar acontecendo entre o pai e o filho mais velho de nossa leitora. O filme "Aos Treze" mostra isso muito bem.

Mesmo assim, é preciso lembrar constantemente que os pais devem ser os adultos dessa relação. Reagir às provocações dos filhos no mesmo tom deles transforma um conflito de gerações em confronto de iguais, o que, aliás, essa mãe percebeu muito bem. E isso não ajuda o filho nessa busca de seu novo lugar, na família e no mundo.

É preciso saber de antemão que, mesmo bancando com firmeza e leveza esse período da vida do filho, que mesmo investindo no diálogo e na negociação, que mesmo adotando uma atitude compreensiva, os pais enfrentarão a oposição dos filhos e, em muitos momentos, viverão percalços no convívio. Mas esses são os ossos do ofício, não é mesmo?


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