Texto Anterior
|
Próximo Texto
| Índice | Comunicar Erros
Cine Prudente Moradores de favela na zona leste paulistana fazem sessões a céu aberto e rodam documentário
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA A sessão vai começar às 19h, mas antes das 17h já se ouve o burburinho em torno da rua da igreja, no coração da favela da Vila Prudente, na zona leste paulistana. As crianças são as primeiras a chegar, junto com uma van que traz o telão, o projetor e o equipamento de som. Do salão pastoral saem alguns rapazes para descarregar o material. Dentro, mulheres põem o guaraná para gelar e estouram a pipoca que vai acompanhar o Eco Cine Favela. Faz sol nesse sábado. Um morador sai de uma viela, cruza a rua da igreja, a mais ampla da favela, cumprimenta o pessoal e acaba voltando para ajudar a erguer o telão. Sob a imagem de São José Operário, padroeiro da comunidade, o DJ pluga um notebook nas caixas de som e solta um samba. O cinema a céu aberto começa a ser montado. PRODUÇÃO CASEIRA Os moradores souberam do evento dias antes. Cartazes e banners foram espalhados. Um rimador popular da comunidade pôs um vídeo no blog do grupo em que, no improviso, chama para a sessão. Cristiano Cardoso, 26, o Santista, também presidente da cooperativa Recifavela, comemora a aceitação do projeto. Tinha motivos para não festejar. A chuva de três dias antes (14 de dezembro) havia alagado o depósito de recicláveis na avenida Prof. Luiz Ignácio de Anhaia Mello, perto da comunidade. Mas aquele sábado (17) era dia da quinta e última exibição do ano do cine, que deve voltar em 2012. No ano que vem, além de curtas vindos de fora, o grupo quer exibir mais filmes feitos na favela. Jovens formaram um coletivo e fizeram cursos de roteiro e cinegrafia com a Kinoforum, associação que fomenta polos de cultura e faz há duas décadas o Festival Internacional de Curtas. O telão e a câmera são emprestados por ela, que ainda dá R$ 150 para a pipoca. CONSTRUÇÃO O coletivo, de cerca de 20 pessoas, prepara um documentário da história do local. "A gente vai atrás dos moradores mais velhos. Uns aceitam filmar, outros, não. Mas indicam outro ainda mais velho, e aí vamos bater na casa desse também", diz Cardoso. Segundo os relatos, os primeiros moradores, trabalhadores da construção civil, ergueram parte dos prédios e das avenidas da Vila Prudente. "Livros sobre a Vila Prudente tem, mas nenhum que fale quem ajudou a construir o bairro, nada da favela." A ideia, então, é registrar essa parte da história em vídeo. FUNK, PIÃO E VIELAS Escurece quase às 20h e o filme começa. O primeiro é de um garoto da favela dançando como um rapper. Reúnem-se em torno do telão umas 150 pessoas, a maioria crianças. Na vinheta que abre o cine, a câmera corre rente ao chão pelas vielas, no estilo "Cidade de Deus", flagrando crianças correndo e girando um pião. "O projeto tem que reforçar a identidade do morador, sem estereótipo, mas não pode deixar de mostrar pra ele o seu papel", diz André da Silva, 34, morador da comunidade. "Quero levar [a experiência] pro lado profissional", diz o cinegrafista do grupo, Fernando de Lima, 17, o Nego Bala. Ele, que diz só pensar "em câmera 24 horas por dia", fez um curta pela Kinoforum ("Você Vê o Que Eu Vejo?"), com cenas da comunidade, e foi premiado num festival. "Você faz seu trabalho e alguém reconhece, mano, você fica muito feliz." Às 22h acabam os filmes e rojões explodem. O DJ toca um funk. Alguns pais vêm buscar as crianças, e a rua da igreja começa a se esvaziar. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |