Índice geral Cotidiano
Cotidiano
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Cine Prudente

Moradores de favela na zona leste paulistana fazem sessões a céu aberto e rodam documentário

Fotos Alexandre Rezende/Folhapress
Crianças da favela da Vila Prudente assistem a curtas a céu aberto
Crianças da favela da Vila Prudente assistem a curtas a céu aberto

REYNALDO TUROLLO JR.
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A sessão vai começar às 19h, mas antes das 17h já se ouve o burburinho em torno da rua da igreja, no coração da favela da Vila Prudente, na zona leste paulistana.

As crianças são as primeiras a chegar, junto com uma van que traz o telão, o projetor e o equipamento de som.

Do salão pastoral saem alguns rapazes para descarregar o material. Dentro, mulheres põem o guaraná para gelar e estouram a pipoca que vai acompanhar o Eco Cine Favela. Faz sol nesse sábado.

Um morador sai de uma viela, cruza a rua da igreja, a mais ampla da favela, cumprimenta o pessoal e acaba voltando para ajudar a erguer o telão.

Sob a imagem de São José Operário, padroeiro da comunidade, o DJ pluga um notebook nas caixas de som e solta um samba. O cinema a céu aberto começa a ser montado.

PRODUÇÃO CASEIRA

Os moradores souberam do evento dias antes. Cartazes e banners foram espalhados.

Um rimador popular da comunidade pôs um vídeo no blog do grupo em que, no improviso, chama para a sessão.

Cristiano Cardoso, 26, o Santista, também presidente da cooperativa Recifavela, comemora a aceitação do projeto.

Tinha motivos para não festejar. A chuva de três dias antes (14 de dezembro) havia alagado o depósito de recicláveis na avenida Prof. Luiz Ignácio de Anhaia Mello, perto da comunidade.

Mas aquele sábado (17) era dia da quinta e última exibição do ano do cine, que deve voltar em 2012.

No ano que vem, além de curtas vindos de fora, o grupo quer exibir mais filmes feitos na favela. Jovens formaram um coletivo e fizeram cursos de roteiro e cinegrafia com a Kinoforum, associação que fomenta polos de cultura e faz há duas décadas o Festival Internacional de Curtas.

O telão e a câmera são emprestados por ela, que ainda dá R$ 150 para a pipoca.

CONSTRUÇÃO

O coletivo, de cerca de 20 pessoas, prepara um documentário da história do local. "A gente vai atrás dos moradores mais velhos. Uns aceitam filmar, outros, não. Mas indicam outro ainda mais velho, e aí vamos bater na casa desse também", diz Cardoso.

Segundo os relatos, os primeiros moradores, trabalhadores da construção civil, ergueram parte dos prédios e das avenidas da Vila Prudente.

"Livros sobre a Vila Prudente tem, mas nenhum que fale quem ajudou a construir o bairro, nada da favela."

A ideia, então, é registrar essa parte da história em vídeo.

FUNK, PIÃO E VIELAS

Escurece quase às 20h e o filme começa. O primeiro é de um garoto da favela dançando como um rapper. Reúnem-se em torno do telão umas 150 pessoas, a maioria crianças.

Na vinheta que abre o cine, a câmera corre rente ao chão pelas vielas, no estilo "Cidade de Deus", flagrando crianças correndo e girando um pião.

"O projeto tem que reforçar a identidade do morador, sem estereótipo, mas não pode deixar de mostrar pra ele o seu papel", diz André da Silva, 34, morador da comunidade.

"Quero levar [a experiência] pro lado profissional", diz o cinegrafista do grupo, Fernando de Lima, 17, o Nego Bala.

Ele, que diz só pensar "em câmera 24 horas por dia", fez um curta pela Kinoforum ("Você Vê o Que Eu Vejo?"), com cenas da comunidade, e foi premiado num festival.

"Você faz seu trabalho e alguém reconhece, mano, você fica muito feliz."

Às 22h acabam os filmes e rojões explodem. O DJ toca um funk. Alguns pais vêm buscar as crianças, e a rua da igreja começa a se esvaziar.

FOLHA.com
Veja o vídeo do Eco Cine Favela
www.folha.com/no1025951

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.