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Racionamento em Itu faz moradora guardar água em 149 garrafas PET

Economia começou oficialmente em fevereiro, mas população cita problemas desde setembro

Empresa que cuida do abastecimento diz que 30% da cidade recebe apenas seis horas de água a cada dois dias

LUCAS SAMPAIO ENVIADO ESPECIAL A ITU (SP)

Também conhecida como a "terra dos exageros", a cidade de Itu vive atualmente o maior problema de falta de água no Estado de São Paulo.

O município a 101 km de São Paulo completa cinco meses de racionamento neste domingo num cenário de revolta dos moradores e mudanças drásticas no dia a dia.

Banhos de caneca agora fazem parte da rotina da cidade, assim como a correria para encher baldes e garrafas PET sempre que um pouco de água é liberada nas torneiras.

Essa situação de caos deve persistir por, no mínimo, mais 90 dias --quando começa o período de chuva.

O racionamento foi oficializado em 5 de fevereiro pela Águas de Itu, responsável pelo abastecimento, mas moradores dizem que a falta de água começou em setembro.

"Quando vem água, a gente enche tudo. Enche lata, garrafa, balde, o que tiver. Está assim desde setembro", diz Marta Mendes de Arruda, 70, que mora em frente a uma estação da Águas de Itu.

No chão da garagem, Marta tem uma caixa-d'água de 310 litros, três galões de 20 litros, dois latões de plástico, três baldes grandes e 149 garrafas PET de 2 litros --a maioria com água armazenada.

Desde janeiro, o banho dela e da família é de caneca.

"É uma falta de respeito", diz a dona de casa, que mora com quatro pessoas. "Faz três dias que não vem água. Na semana passada, foram oito."

Oficialmente, a Águas de Itu diz que cerca de 30% do município recebe apenas seis horas de água a cada 48 horas --os outros 70% têm água todos os dias das 18h às 4h.

A Folha percorreu diferentes bairros na quarta (2) e ouviu relatos de que essa periodicidade não é respeitada. E mais: quando a água chega, dizem os moradores, não tem força o suficiente para subir até as caixas-d'água.

"Um dia coloquei um balde na torneira da garagem e fui dormir. Quando acordei, estava terminando de encher", diz Regina Fátima de Souza, 54, que mora na Vila Ianni, um dos bairros mais afetados. Ela tem uma caixa-d'água de 500 litros, que diz estar vazia há quase um mês.

"Moro há 50 anos no bairro e nunca ficou assim", diz Olíada da Silva, 78, que chora ao falar da falta de água.

Para tentar amenizar o problema, moradores estão comprando caixas-d'água para colocar na garagem e bombas para fazer a água subir até os reservatórios da casa.

Em lojas de construção, a venda de caixas-d'água cresceu mais de 100% nos últimos meses, segundo vendedores, e há fila de espera de até 15 dias.

Foi o caso de André Pereira da Silva, 45, filho de Olíada. Ele trabalha em um frigorífico, ganha R$ 1.300 e gastou metade do salário para comprar o equipamento.

"A gente não lava roupa há um mês. O jaleco do frigorífico eu coloco no sol para secar o sangue e a gordura, porque não tem água", afirma.

"Estou com os meus cinco jalecos assim, e há um mês eu tomo banho de canequinha. Você sabe o que é tomar banho de canequinha?", pergunta o rapaz. "Estou cansado de tomar banho de canequinha. Não tem condição."

Houve dois protestos de moradores por causa da falta de água em Itu: um em 15 de fevereiro, dez dias após o início do racionamento, e outro no domingo (29).


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