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Leão Serva

Movimento dos sem água

Em São Paulo, ricos e pobres, sem-teto e sem-aeroporto, estão juntos, prontos para destruir mananciais

Terminou a novela do Plano Diretor. Voltemos à tragédia da falta de água na cidade. As notícias mostram que esquerda e direita, pobres e ricos estão juntos ao ameaçar o abastecimento de São Paulo.

A água que bebemos vem de conjuntos de rios e represas localizados ao norte (Cantareira) e ao sul (Guarapiranga). A água brota de fontes que dependem de áreas verdes para sua renovação. Ao longo das décadas, as terras em volta dos mananciais que abastecem os dois sistemas têm sido ocupadas e o espaço de absorção da água das chuvas, reduzido. Com isso, os olhos e as fontes de água ficam mais secos, os rios diminuem e, claro, as represas também.

Cidades com capacidade de planejamento e respeito à lei, como Nova York, reservaram as matas em volta de seus mananciais como parques protegidos há muitas décadas. Quem voa sobre o norte daquela metrópole americana, rumo ao Canadá, se surpreende com a quantidade de florestas. Quem sobrevoa São Paulo, rumo ao Sul ou ao Norte, se surpreende com as ocupações irregulares nos dois extremos (e também no leste e no oeste).

Nos anos 1980, quando a ditadura desmilinguiu, movimentos de esquerda cresceram ao liderar invasões de terras nas zonas sul e leste. O lado bom: ajudaram a abalar o regime e garantiram habitação para milhares de pessoas. Ruim: a ocupação desordenada gerou bairros favelizados e reduziu áreas verdes necessárias para captação de água.

Não foram só movimentos populares que tomaram áreas de mananciais. Cantareira, zona sul e toda a cidade têm muitas ocupações irregulares de classe média e alta.

Agora, o Plano Diretor tomou dois golpes importantes. O Movimento dos Trabalhadores Sem Teto conseguiu mudar a destinação prevista em lei de uma área de mananciais, no M'Boi Mirim (zona sul), ocupada desde novembro passado e a qual deu o nome de Nova Palestina. O lugar abriga 8.000 famílias (diz o MTST) em terreno de cerca de 1 milhão de metros quadrados (o equivalente a 2/3 do tamanho do Ibirapuera), antes destinado a um parque.

No M'Boi Mirim não há empregos. Embora dito de esquerda, o movimento é urbanisticamente conservador, cria um gueto de sem-tetos distante na zona sul.

Há outros movimentos, com forte influência na Câmara dos Vereadores, que também conseguiram impor seus interesses no novo Plano Diretor. É o caso do "movimento dos sem-aeroporto para jatinhos". André Skaf, filho do candidato do PMDB ao governo do Estado, Paulo Skaf (presidente licenciado da Fiesp), e Fernando de Arruda Botelho Filho, herdeiro da empreiteira Camargo Correa, se juntaram para ocupar uma área de mananciais em Parelheiros.

Trata-se de região que não pode ser adensada para garantir fontes de água já ameaçadas pela recente construção do Rodoanel. É terra de alta relevância ambiental, com predomínio de áreas rurais e vegetação nativa, fundamental para a captação das chuvas no manancial que já sobrevive a meia boca. Nova York pagaria para que os proprietários cuidassem da mata. Mas nossos vereadores de todos os matizes políticos aprovaram a mudança de destinação para permitir que o "movimento dos sem-aeroporto" ocupe a área.

É uma prova de que em São Paulo a irresponsabilidade não tem credo, classe ou cor ideológica. Melhor criarmos logo o movimento dos sem água.


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