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Contra arrastão, prédio revista até morador

Seguranças observam ocupantes de carros e abrem porta-malas antes de liberar a entrada nos condomínios

Medidas estão sendo adotadas em bairros como Jardins, Perdizes e Moema para evitar a entrada de assaltantes

TALITA BEDINELLI
DE SÃO PAULO

Todas as vezes que o carro da nutricionista Carmem Barbieri, 45, chega ao portão da garagem de seu edifício no Morumbi, zona oeste de São Paulo, um segurança se aproxima. Ele pede para que os vidros sejam abertos e, à noite, que a luz interna seja acesa.

Em seguida, o funcionário vistoria o carro, em busca de algum estranho.

A rotina foi implementada há um mês, depois que um prédio vizinho sofreu arrastão, conta a nutricionista, síndica do edifício.

Por medo das invasões, moradores de bairros nobres, como Moema, Perdizes e Jardins, têm se submetido a revistas antes de entrar em suas residências. Elas acontecem ainda na calçada ou numa espécie de "clausura" (espaço entre dois portões).

Esse tipo de procedimento não é novidade. Era mais comum em edifícios de altíssimo padrão, com poucos apartamentos e moradores.

O condomínio onde Carmem mora tem duas torres e 108 unidades, e o procedimento é rápido. Na hora do "rush", no entanto, provoca filas na entrada da garagem.

No condomínio de 392 apartamentos em que mora o advogado e síndico Marcellus Parente, 40, próximo à Cidade Universitária (zona oeste), a segurança vai além: abre o porta-malas do carro e, quando há um visitante no veículo, pede para que ele saia e entre pelo portão social.

A empresa responsável pela segurança do edifício, a Haganá, explica que a medida visa separar o morador de um potencial criminoso.

"A única forma de 'limpar' o carro é separar o desconhecido para que o morador possa dizer se está em risco", diz o diretor comercial da empresa, José Antonio Caetano.

RECLAMAÇÕES

Mas nem todos os moradores ficam contentes com as medidas rígidas.

Carmem conta que há quem se recuse a abrir as janelas do carro.

"Tem morador que só abre depois que o segurança bate no vidro e pede", diz.

Os condôminos ainda não aprovaram, por exemplo, que os porta-malas sejam revistados, porque a maioria considera invasão de privacidade.

O advogado Parente também já ouviu reclamações por causa da segurança.

"Há moradores que dizem que a medida causa constrangimento com as visitas, mas respondemos que segurança não admite exceção", conta.

E não admite mesmo. O gerente predial de um edifício nos Jardins, que por questões de segurança pediu para não ser identificado, conta que até um ex-presidente, ao entrar de carro no edifício com autorização de um morador, foi barrado para que o carro fosse revistado. "Quem quer entrar no prédio tem que se submeter".

Segundo o Deic (Departamento de Investigações sobre Crime Organizado), houve no primeiro trimestre de 2011 ano nove casos de arrastões em condomínios em toda a cidade. No mesmo período de 2010, foram 18.

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