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Entrevistas 2011/2012 Rosangela Lyra

A região da Oscar Freire é um oásis dentro de São Paulo

Diretora da Dior no Brasil e Presidente da Associação de Lojistas da Rua de Comércio de Luxo diz que nem o metrô de Paris é seguro

ROBERTO DE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO

Rosangela Lyra anda animada com a ideia de a região dos Jardins, em São Paulo, receber um shopping center.

Nas palavras dela, não será "um shopping qualquer", mas, sim, um lugar aberto que permitirá circulação ainda maior de gente "antenada e interessante" no quadrilátero formado pelas ruas Oscar Freire, Haddock Lobo, Bela Cintra e Lorena, o "mais charmoso" de São Paulo.

Presidente da Associação dos Lojistas dos Jardins, ela acredita que o empreendimento fugirá do padrão "caixotão", que dita a estética desse tipo de construção.

Na loja da Dior, marca francesa da qual ela é diretora no Brasil, Lyra, 46, conversou com a Folha. A seguir, ela fala de shopping, metrô, cidadania e classes B e C.

Folha - Como a senhora define a região da Oscar Freire?
Rosangela Lyra - São Paulo tem 50 shoppings, parques, tem de tudo, mas este é o único reduto de pedestres da cidade. É um destino de compras para quem não quer buscar vagas para estacionar. O público daqui viaja muito, adquiriu o hábito de andar na rua. E é na rua que você vê de fato as pessoas, a cidade. É uma forma de linguagem. Isso aqui é um oásis dentro da cidade.

A região precisa de shopping?
Há dez anos, ouço falar sobre novos empreendimentos. O único que, de fato, sei que vai ser construído é o Cidade Jardim Shops. Ficará no quarteirão onde antes funcionava o Fasano [na rua Haddock Lobo]. Vi o projeto. É encantador, lindo. Será aberto. As pessoas não vão se sentir dentro de um shopping.

O que falta para melhorar essa região dos Jardins?
Aterrar os fios das ruas vizinhas. São tantos os postes que mais parecem um Exército vindo na sua direção.

A classe C já chegou aqui?
É uma classe que está consumindo eletroeletrônicos, eletrodomésticos, mas não chegou aqui. Para entrar nesse segmento de marcas excepcionais -porque a palavra luxo foi banalizada-, você tem que ter experienciado coisas dentro do universo econômico e até cultural.

Como assim?
Há pessoas que não conseguem entender o conceito de valor agregado, ou seja, que, para fazer um produto que poucas pessoas terão no mundo, porque exclusividade tem preço, para chegar àquele protótipo, foi feito muito experimento, houve muito gasto na comunicação. Não é simplesmente "vamos vender e colocar esse preço para ter uma margem de lucro gigante e ganhar muito dinheiro". Olha, nem a classe média consegue entender isso ainda -e eu falo da B.

Não?
Quando começa a entender, ela quer mostrar para todo o mundo que chegou lá. É o período que chamo de ostentação. Então, ela mostra com as letras. Precisa das letras estampadas em tudo. Depois da ostentação, passa para o design. Aí, não precisa mais mostrar as letras. É o momento em que chegou ao mercado verdadeiramente de luxo. Precisa de tempo. Não é só "ganhei dinheiro".

Quando a senhora recebe estrangeiros, aonde costuma levá-los em São Paulo?
Faço um tour gastronômico pelos restaurantes japoneses. Também amo o Gero [restaurante do grupo Fasano]. Todo o mundo que vem aqui ama, mesmo quem mora na França ou na Itália. Gostam do ambiente, da comida boa, do serviço excelente e, é claro, das pessoas. Também gosto de levá-los ao shopping Cidade Jardim, lugar bonito.

O mau cheiro do rio Pinheiros não a incomoda?
Nas vezes em que estive lá, a brisa estava calma. Não senti. Moro perto da marginal, do outro lado, talvez meu nariz já tenha... Enfim, não senti. Acho que o Cidade Jardim sai do padrão de shopping fechado. E temos uma vista linda de São Paulo lá de cima.

Por que é chique andar de metrô em Paris, em Nova York e em Londres e por aqui não?
Não é mais. Andava de metrô em Paris. Ficou perigoso. Estou sempre vestida de Dior, desde um vestido de algodão até a rasteirinha [ela tirou para fazer as fotos]. É elegante. Mesmo no "casual", me diferencio. As pessoas olham para mim e sabem que é elegante. Porque é o corte, o tecido, o caimento, o conjunto. Chama a atenção. Os próprios parisienses me aconselham a tomar cuidado.

A senhora já andou de metrô em São Paulo?
Já, mas faz tempo. Nunca mais voltei. Aqui, não consigo ir para minha casa. Fui para conhecer. A gente não tem uma boa malha. Sem contar a falta de segurança.

Não acha que falta ao paulistano exercer mais a cidadania?
Isso é da cultura brasileira. É claro que aqui poderia ser diferente. As pessoas tendem a ter uma visão imediatista, estreita. A gente acaba sendo um pouco egoísta. Essa geração que está vindo aí será ainda pior. É tudo para ontem.

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