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Rosely Sayão

'Tempo integral louco'

Muitos homens têm sacrificado um pouco suas vidas para dar prioridade aos filhos

Temos falado das "novas famílias" com bastante frequência, não é? Sempre que o tema é família, seja em reportagens, seja em conversas a respeito da educação de crianças e de jovens, as novas configurações familiares são tema central das discussões. Ocorre que, quase sempre que nos referimos aos novos arranjos dos grupos familiares que temos na atualidade, consideramos os novos desenhos: em lugar da antes hegemônica estrutura pai-mãe-filhos, hoje temos uma grande diversidade de grupos que compõem as famílias e que são produzidos principalmente pelos rompimentos de casamentos e pelos recasamentos.

Mas não é a apenas a estrutura familiar que se diversificou: o modo como os integrantes da família se relacionam entre si, e a maneira como as funções da mãe e do pai têm sido inovadas também produzem novas famílias, mesmo que elas sigam o modelo clássico pai-mãe-filhos.

Li, na semana passada, um artigo em uma revista dedicada ao mundo dos negócios que trouxe uma notícia bem interessante: o diretor executivo de uma empresa importante no mercado decidiu abandonar seu cargo para se aproximar mais de sua família --principalmente dos filhos-- e tornar-se um pai melhor. Com filhos de nove, 12 e 14 anos, esse homem escolheu priorizar seu papel de pai. Claro que ele não abriu mão de seu trabalho: abdicou apenas do cargo que ocupava, que exigia demais dele. Ele continua a "trabalhar em tempo integral, mas não mais em tempo integral louco", segundo suas próprias palavras.

No ano passado, fui convidada a dar uma palestra em um grande evento dedicado à área de gestão de negócios, para conversar sobre a busca de equilíbrio entre a vida profissional e a familiar. Duvidei que tivesse plateia interessada, mas qual não foi meu espanto ao chegar e ver o local lotado, majoritariamente por homens. Foi a primeira vez que falei a um grupo masculino em quase sua totalidade, porque a educação dos filhos ainda tem sido tarefa mais feminina, não é?

Esses dados me fazem pensar que alguns homens que são pais têm se comprometido de modo diferente com os filhos. Talvez esse ainda seja um movimento tímido, mas certamente indica uma mudança que deve ser considerada principalmente pelas empresas, que têm exigido de altos funcionários a dedicação de "um tempo integral louco", e esquecido que esses homens têm famílias e filhos e que gostariam de se dedicar mais a eles.

E o que vem a ser esse "tempo integral louco"? Ah! Quem trabalha em grandes empresas e corporações sabe muito bem disso. Além do horário dedicado ao trabalho na empresa, há o correio eletrônico com mensagens que exigem respostas imediatas, há o aparelho celular com chamadas e mensagens de texto e ainda há grupos da empresa que se falam dia e noite por meio de aplicativos de mensagens instantâneas. Loucura mesmo!

Caso as empresas não aceitem o fato de que precisam aliviar a carga de trabalho dos homens, elas correm o risco de perder importantes talentos de seu quadro, que foi o que ocorreu com o diretor executivo citado anteriormente.

Muitos homens têm feito o que não víamos há algum tempo: eles têm sacrificado um pouco suas vidas em nome dos filhos. E não me refiro ao sacrifício de trabalhar mais para dar mais potencial de consumo às crianças, e sim para dar prioridade a elas.


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