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Comida - em cima da hora

Dono do Il Sogno di Anarello morre aos 78

Desde os anos 1950 no Brasil, o italiano Giovanni Bruno foi personagem importante na história das cantinas em SP

Restaurateur começou carreira no tradicional Gigetto e trabalhou até o fim da vida em sua casa, aberta em 1980

LUIZA FECAROTTA EDITORA DE 'COMIDA' E 'TURISMO'

Giovanni Bruno, um dos personagens mais importantes da história das cantinas em São Paulo, morreu aos 78 anos na manhã desta terça (26), de falência de múltiplos órgãos, decorrente de problemas cardíacos.

Foi em 1950 que Giovanni aportou em Santos e, apenas um dia depois, já estava a descascar batatas e lavar pratos na cozinha do Gigetto, restaurante que impulsionou e serviu de modelo para várias outras cantinas da cidade, como Lellis e Piero.

Ali começou sua jornada --que marcou a cultura da cozinha italiana em São Paulo. É dado a ele, por exemplo, o crédito pela receita do cappelletti à romanesca --a massa, recheada de carne bovina, ia à mesa besuntada em molho branco enriquecido com presunto picado, ervilhas e champinhons.

A preferência de Giovanni, no entanto, era mais simples, o espaguete ao alho e óleo, que adorava preparar em sua casa. Almoçava tarde, já ao pôr do sol, sempre algo leve. Jantar, só na madrugada, quando seu restaurante esvaziava --e então comia massas, sem firulas.

NO COMANDO

Em 1967, o italiano de Casalbuono havia endereçado uma carta à sua mãe a contar que agora era ele "quem mandava". Havia deixado de lado seu trabalho como garçom no prestigioso Gigetto, onde ficou por 17 anos, para abrir sua própria casa, a Cantina do Júlio, no miolo do Bixiga, região central.

Fez (mais) fama, no entanto, com o seu Il Sogno di Anarello, aberto em 1980 e que existe até hoje na Vila Mariana, região sul.

Esse sujeito que usava a "gorjeta dos ricos para completar a conta dos pobres, geralmente artistas e escritores", como ele mesmo contou à Folha no começo dos anos 2000, adorava trabalhar --e atender seus clientes que, vez ou outra, não precisavam nem sequer tocar no cardápio para fazer os pedidos.

"Se você tem mais de 50 anos e mora em São Paulo, é meu filho, porque direta ou indiretamente eu já lhe servi um prato de comida", contou à época. Tinha seu restaurante "como uma igreja", disse seu genro, Amauri Piva.

NOVELA E FUTEBOL

Também reservava tempo para o futebol. No final dos anos 1980 e ao longo dos anos 1990, foi comentarista do campeonato italiano de futebol na rede Bandeirantes.

Palmeirense roxo, Giovanni morreu no mesmo dia em que o clube completou cem anos --o mesmo time do qual foi conselheiro e detinha uma das mais antigas carteirinhas de sócio, como lembra Angelo Iacocca, autor da biografia "Giovanni Bruno... Aos Nossos Momentos".

Até novelas engrossaram sua fama. Inspirou personagem homônimo em "Vida Nova", de Benedito Ruy Barbosa, exibida na Rede Globo em 1988 e 1989, cuja trama se passava na São Paulo dos anos 40 e tinha como cenário um cortiço no Bixiga.

Dez anos depois, deu consultoria à novela "Terra Nostra", também da Globo.

MAL-ESTAR

Até o fim da vida, Giovanni ia trabalhar regularmente em seu restaurante Il Sogno di Anarello --que batizou a rua em que se instalou graças ao amigo e então prefeito Jânio Quadros (1917-92).

O restaurateur sentiu o primeiro mal-estar quando visitava seu país de origem na companhia de sua família, em julho deste ano.

De volta ao Brasil, em agosto, foi internado no Instituto do Coração, onde permaneceu por uma semana. Morreu em São Paulo e deixou mulher, filha e dois netos.


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