Índice geral Cotidiano
Cotidiano
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Especialistas divergem sobre os rumos da operação no centro

DE SÃO PAULO

Especialistas na área de atendimento a usuários de drogas e políticas públicas para o setor divergem sobre a ação na cracolândia.

Carlos Salgado, psiquiatra e conselheiro da Associação Brasileira de Estudo de Álcool e Drogas, vê positivamente a ação da PM, como primeira etapa. "A operação policial é parte relevante. É positivo reorganizar o ambiente geográfico ali, de forma a tornar a droga menos disponível".

Salgado também concorda com a divisão em etapas. "Uma ação mais integrada, com mais complexidade, traria mais resultados? Sim. Mas em geral, não é o mais comum. Então fazer em três etapas, faz sentido."

Para o psiquiatra, "se o fluxo da droga for suspenso e o usuário for abordado por um agente de saúde, o coração dele pode bater mais forte para o lado de sair do vício."

"A questão inicial é o controle do tráfico. A sociedade tem que achar um jeito. A realidade amarga é que uma minoria aceita tratamento".

O psiquiatra também acredita que, embora os usuários não representem risco grande aos agentes de saúde, os traficantes acabam impedindo a ação dos profissionais.

INTEGRAÇÃO

Mas há quem discorde. "Eu não entendi nada. A gente tinha um projeto para a cracolândia. E não era operação policial", afirma a psiquiatra Ana Cecília Marques, que participou de reuniões entre governo estadual e prefeitura sobre a ação na região.

Ela diz que abandonou as discussões ao perceber que "as coisas não iam para o lado certo". A psiquiatra, que é professora da Unifesp, defendia a articulação de todos os órgãos da rede de atendimento aos usuários de drogas -como albergues, centros de convivência e leitos para internação- antes do início da operação.

O sociólogo e coordenador do Núcleo de Estudos sobre Violência e Políticas Alternativas da Unesp, José dos Reis Santos Filho, concorda. "O Estado deve ocupar o espaço perdido para o tráfico, mas é preciso saber antes quais são as alternativas que existem para acomodar os usuários".

Renato de Vitto, defensor público e coordenador da comissão de Justiça e Segurança do IBCCrim (Instituto Brasileiro de Ciências Criminais), acha "quase pueril imaginar que a polícia vai acabar com o tráfico da cracolândia em 30 dias. Se conseguisse, teria feito nos últimos 20 anos".

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.