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Disputa por acesso a água envolve até jagunços no interior do Ceará

No Estado, 96% dos municípios estão em estado de emergência devido à estiagem prolongada

Área federal com duto de irrigação é invadida em Limoeiro; açude estatal em Potiretama é alvo de disputa

ANDRÉ UZÊDA ENVIADO ESPECIAL AO INTERIOR DO CEARÁ

Conhecida pelos crimes de pistolagem e disputas por terra, uma região do interior do Ceará hoje é palco de conflitos pelo acesso à água. No Estado, 96% dos municípios estão em estado de emergência por causa da seca.

Um desses focos de tensão está em Limoeiro do Norte, a 207 km de Fortaleza.

Famílias de lavradores que sofriam com a falta de água em suas propriedades invadiram uma área federal e montaram acampamento ao lado de um duto que liga o rio Jaguaribe a plantações de soja, banana e milho.

"Temos terras em outros locais, mas não temos condições de plantar e viver nelas porque lá não tem água", diz o agricultor Rafael Alves, 29.

Produtores temem o fechamento das bombas que levam água aos pontos de irrigação.

"Se isso acontecesse, aí sim teria um conflito. Seria difícil segurar produtores para não invadir o acampamento a bala vendo as plantações morrendo", diz Raimundo dos Santos, presidente da associação rural dos produtores da Chapada do Apodi.

A água bombeada que passa pelo duto é administrada por empresas e produtores. Na área invadida, os lavradores ergueram guaritas e usam fogos de artifício para alertar sobre possíveis ataques dos produtores --por ora, só alarmes falsos.

A água não serve para beber, mas as famílias a utilizam para cozinhar e tomar banho. Uma vez por semana, um carro-pipa é enviado pela prefeitura para encher um tanque de 30 mil litros.

Esse não é um caso isolado. Segundo relatório divulgado neste ano pela CPT (Comissão da Pastoral da Terra), o país tem 104 conflitos por água. A maioria (42%) está no Nordeste, com 44 casos. Em seguida aparecem as regiões Norte (28), Sudeste (20), Sul (9) e Centro-Oeste (3).

Para o pesquisador Roberto Malvezzi, da CPT, os conflitos por água no Nordeste têm o peso histórico da falta de recursos hídricos, mas são agravados agora pela longa estiagem.

AÇUDE PRIVATIZADO

Em Potiretama, a 82 km de Limoeiro do Norte, há um outro conflito por água.

Um fazendeiro é acusado de "privatizar" um açude estatal e de usar a força para impedir os moradores de plantar nos arredores.

A terra de João Alves foi desapropriada em 2006 para a construção do açude Bom Jardim --hoje quase todo seco.

Mesmo com a obra pronta, ele continuou plantando capim às margens do açude e criando gado leiteiro e cercou o local com arame farpado.

Segundo os moradores, o fazendeiro enviou jagunços para ameaçar os que usavam a vazante do açude para plantar feijão e milho.

"Eles destruíram tudo, dizendo que ninguém tinha o direito de plantar lá", diz o agricultor Marcos Nogueira.

Para o fazendeiro, a denúncia é "invenção do povo". Ele diz que construiu as cercas porque até hoje o governo não demarcou as terras que desapropriou.

Segundo o governo do Ceará, as demarcações foram definidas no ato da desapropriação e toda a área ao redor do açude pertence ao Estado.


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