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Crise da água
Relatório de 2011 já falava em risco de desabastecimento
Documento da Sabesp afirma que companhia operava com deficit de 1.500 litros por segundo entre oferta e demanda
Segundo estudo, chuvas, abastecimento falho e picos de produção contribuíram para que não faltasse água antes
Chuvas, picos de produção e abastecimento falho para 3,7 milhões de pessoas. Essas são as razões apontadas em relatório da Sabesp para que a falta de água não atingisse a Grande São Paulo já em 2010, antes da atual crise hídrica.
Elaborado em 2011, o documento afirma que a companhia estadual estava operando no ano anterior com deficit de 1.500 litros por segundo entre a demanda e a oferta de água estimadas para a região metropolitana.
Segundo o estudo, só não faltou água porque a situação hidrológica era "favorável"; porque "alguns sistemas podem eventualmente produzir acima da sua capacidade"; e porque "subsistem problemas de suprimento de água" em áreas "que abrangem 3,7 milhões de habitantes".
Esses problemas, causados "por limitações de capacidade ou falhas na adução [condução da água na rede]", fizeram com que a demanda potencial de água dessa população não se manifestasse "de forma integral", gerando uma "demanda reprimida".
Sem ela, o estudo aponta que o volume de água disponível para a Grande São Paulo (então de 65.500 litros por segundo) teria sido insuficiente já em 2010, ano em que o sistema Cantareira operou com níveis superiores a 70%.
O relatório ainda diz que esse deficit tendia a aumentar nos anos seguintes, chegando a um máximo de 5.800 litros por segundo em 2015 --água suficiente para atender 1,7 milhão de pessoas.
Em 2014, mananciais que abastecem a Grande São Paulo foram atingidos por uma severa seca. O principal deles, o Cantareira, operava neste domingo (5) com 6% de sua capacidade de armazenamento, o pior nível da história.
DEMANDA
O relatório, feito por duas firmas de engenharia e endossado pela Sabesp, estuda o impacto ambiental do sistema São Lourenço, maior obra para reforçar o abastecimento da região metropolitana.
O documento analisa demandas e ofertas de água estimadas em planos de abastecimento. A Sabesp diz que um dos planos é de 2006 e que, desde então, houve "novas obras e medidas" e que "o cenário hoje é muito diferente".
A estatal diz que o documento apresentava "os cenários mais desfavoráveis" e que as demandas são hoje menores do que o previsto. Pelo relatório, elas estariam entre 71 mil e 74 mil l/s em 2014.
Segundo a Sabesp, mesmo com o aumento de clientes, a demanda teria caído para cerca de 63 mil l/s devido a "ações como a redução de perdas", provocadas por vazamentos e furtos de água, por exemplo.
Especialistas avaliam que a redução de perdas, embora expressiva (entre 2009 e 2013, elas caíram de 25,9% para 24,4%), não foi suficiente para diminuir tanto a demanda.
"Grosseiramente, a demanda está sendo atendida, mas o preocupante é que, para isso, os sistemas produzem no limite", afirma o professor da Poli-USP Rubem Porto.
A Sabesp diz ter feito obras que elevaram de 57.200 para 73.300 l/s a capacidade produtiva dos sistemas que atendem a região metropolitana.