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Rosely Sayão

Notas e cobranças

Muitos pais tentam ajudar a criança nos estudos, mas perdem a paciência e não toleram que o filho erre

Nesta época do ano, os resultados escolares dos filhos provocam tensões extremas em muitas famílias e, aí, crianças ficam sobrecarregadas com aulas particulares, são encaminhadas a atendimento psicopedagógico, psicológico e similares, ganham horários rigorosos de estudos, perdem regalias cotidianas, sofrem ameaças, são medicadas etc.

Jovens também passam por isso, e a cobrança não é só da família, mas deles também, que já internalizaram essa pressão. Existe até tráfico de drogas medicamentosas entre eles na tentativa de conseguir mais foco, atenção e disponibilidade para o estudo.

O relacionamento entre pais e filhos fica comprometido. Pais emburrados, bravos e com pouca paciência em relação às demandas da criança, discursos inflamados sobre a importância dos estudos, queixas a respeito do alto valor financeiro da mensalidade escolar e dos gastos extras com as medidas tomadas imperam na família.

Muitos pais decidem tentar levar a criança a melhorar as notas. Eles se municiam de paciência, sentam com a criança e dedicam o pouco do tempo que têm em família para estudar junto com ela, explicar o que ela não entendeu, monitorar o estudo e as lições.

Essa história começa bem, mas em geral termina bem mal, porque a atitude dos pais se transforma à medida que eles constatam que aquilo que para eles parece simples e fácil de entender e de fazer, para a criança parece ser um enigma indecifrável. E os pais não toleram que o filho erre. Eles se esquecem que, para aprender, é preciso errar.

O comportamento do filho também irrita muitos pais. A criança se distrai, se mexe, sente fome, quer ir ao banheiro, faz perguntas que não têm relação com o estudo. A voz de quem acompanha o filho, que no início dos trabalhos é doce e amorosa, vai se tornando dura, ríspida e alta, cada vez mais. E é comum que a sessão termine com gritos dos pais e choro do filho. Resultado: a criança, ou o jovem, vai nutrindo raiva pelos estudos.

A escola tem sua parcela de responsabilidade nessa situação. Quando o aluno vai mal, a escola convoca os pais e passa a eles a mensagem, explicitamente ou nas entrelinhas, de que o problema está em casa. E os pais se submetem a essa situação passivamente. Interferem na vida escolar no que não é devido, e acatam de forma submissa uma responsabilidade que não lhes compete.

Perguntei a cada um dos pais que me procurou por viver essa situação agora, se eles perguntaram à escola quais as atitudes ela tomou para melhorar o rendimento de seu aluno. Nenhum deles sequer pensou nessa possibilidade por ter aceitado que administrar o aprendizado escolar do aluno é responsabilidade da família.

O que há de mais precioso na relação entre pais e filhos é o vínculo entre eles. É ele que permite que a criança seja educada, que respeite e tenha admiração por seus pais, que se sinta segura e acolhida mesmo em suas falhas, erros e defeitos, e que perceba que pertence a um ambiente amorosamente constituído como chão firme para seu crescimento.

Não vale a pena destruir esse vínculo, mesmo que temporariamente, por causa da escola, que é apenas mais um dos instrumentos da vida que colabora --ou prejudica-- seu aprendizado. Não é razoável esperar que o filho tenha sempre boas notas, porque isso não significa que ele está aprendendo.


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