Polícia do Rio prende 57 suspeitos de envolvimento com aborto ilegal
Policiais e médicos estão entre detidos; segundo a investigação, 3 atuavam desde os anos 1970
Lucro da quadrilha seria de R$ 300 mil por mês; entre os chefes, estariam profissionais de 70 a 90 anos de idade
A Corregedoria da Polícia Civil do Rio prendeu, nesta terça (14), 57 pessoas suspeitas de envolvimento com abortos clandestinos no Estado. Outras cinco já estavam presas e 13 são procuradas.
Entre os detidos há médicos, advogados, policiais civis e militares, um bombeiro e um sargento do Exército.
O lucro da quadrilha seria de R$ 300 mil por mês. Entre os acusados de chefiarem o grupo, há três médicos com idades entre 70 e 90 anos envolvidos com a prática de aborto desde a década de 1970 e moradores de bairros nobres do Rio, segundo a investigação.
Documentos apreendidos na casa do médico Aloísio Guimarães, 88, indicam que ele abriu uma conta na Suíça. A polícia diz também ter encontrado o extrato de um depósito de US$ 5 milhões.
Ele é um dos presos. A reportagem não localizou o seu advogado.
Segundo a investigação, o grupo montou, desde 2013, nove "centros abortivos itinerantes" para fugir da polícia.
Foram tomados depoimentos de 37 mulheres, atendidas entre 2011 e 2013, que realizaram os abortos nesses locais.
Entre as testemunhas, há mulheres que abortaram com sete meses de gestação (o que aumenta o risco de morte) e uma adolescente de 13 anos.
Para o Ministério Público, os acusados devem responder pela prática dos 37 procedimentos e por crimes de corrupção passiva e ativa, exercício ilegal da medicina e associação criminosa armada.
Os presos ainda podem recorrer à segunda instância.
Os abortos eram feitos em adultas e jovens do Rio, de São Paulo e do Espírito Santo.
Elas marcavam o atendimento por telefone e iam esperar pelo transporte em um ponto do Rio, próximo a um dos nove centros.
Antes da consulta, um veículo passava e as levava para as clínicas. Os locais eram protegidos por policiais civis e militares que recebiam propinas para evitar a ação policial, segundo a investigação
ANTECEDENTES
No Rio, duas mulheres morreram recentemente após fazerem abortos em clínicas clandestinas. O corpo de Jandira Cruz, 27, foi encontrado carbonizado. Elizângela Barbosa, 32, morreu em Niterói. Com um tubo plástico no útero, seu corpo foi abandonado num hospital público.