Aos 20, jovens viram empresários da noite
Produtora de festas, composta por universitários, cobra até R$ 15 mil e tem contratos com 14 entidades acadêmicas
Por serem 'open bar', eventos têm segurança particular reforçada; marcas 'brigam' para patrocinar as festas
São 23h de uma terça-feira na zona oeste de São Paulo. Basta mostrar o ingresso e pronto, "welcome to the jungle". Abre-se um corredor estilizado com árvores de plástico e som ambiente remetendo à mata, tema da festa.
Do lado de dentro da boate nada lembra a selva. São 2.000 jovens bem-vestidos, se espremendo numa legítima festa "open bar", bebida liberada até o fim da noite (ou começo da manhã).
"Acordei às 3h para estudar para a prova de family business'. Depois fui trabalhar, e agora estou aqui", diz Fernanda Lima, 21, aluna de administração do Insper.
A "tequilada" da universidade é tradicional, ao menos para os estudantes. Acontece todo fim de semestre, em comemoração ao término das provas. No caso, a terça (7).
Dá trabalho fazer uma balada dessas: tem que arrumar bebidas "top" (vodca Absolut, uísque Red Label), vender ingresso antecipado e contratar atrações.
Tanto trabalho que o diretório acadêmico do Insper paga a uma agência para tomar conta de tudo, a Taj.
Composta por universitários, a empresa tem contrato com 14 entidades acadêmicas. Produz eventos badalados, como a "Festa do Branco", da ESPM, e a Equador, do Mackenzie, por módicos R$ 15 mil.
"Cinco anos atrás, as festas eram pé na lama. Desorganizadas. Aí pensamos que poderíamos torná-las mais profissionais", conta Guilherme Wolf, sócio da Taj.
Seu sócio, Thiago Amorim, 21, está no 3º ano de publicidade da ESPM. "O Catra já chegou. Quer falar com ele?".
Na "tequilada" do Insper, o funkeiro Mr. Catra é a atração principal --a abertura é dos cariocas do Bonde do Tigrão.
"Hoje, o pessoal gosta muito de funk. Mas tem festa mais alternativa, como da Cásper Líbero. A gente precisou arrumar um cover do Arctic Monkeys [banda de indie rock inglesa]", diz Amorim.
LUCRO
Mr. Catra começa o show. Agora fica mais fácil conseguir uma dose de Absolut ou de tequila El Jimador. "Na minha época de USP, bebíamos cerveja Primus nas festas, porque era bem barata", diz Viviane Rodrigues, 29, sócia da agência B2, especializada em eventos para jovens.
Por serem "open bar", os eventos têm segurança particular reforçada. Em setembro, o estudante Victor Hugo Marques, 20, foi encontrado morto após uma festa na Cidade Universitária. Laudo do IML indicou que ele morreu afogado após consumir uma nova droga, a 25B-NBOMe (leia mais em "Ciência e Saúde").
"As festas hoje têm o objetivo de dar lucro, são profissionais, os centros acadêmicos têm diretores de marketing. As marcas brigam para patrociná-los, é um público que elas querem atingir", diz.
Além de marcas de bebidas e de cigarro, os eventos têm propaganda de empresas de telefonia e alimentos. Na festa do Insper, um restaurante japonês vendia temakis e outro, pizzas em forma de cone.
O show terminou às 5h, a festa foi mais longe. Três horas depois, universitários cambaleantes disputavam táxis em frente à balada, enquanto o sol já ficava forte, às 8h.