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Governo veta bomba e bala de borracha na cracolândia

Decisão é tomada após Folha revelar uso de artefatos pela PM contra viciados

Promotores abrem inquérito para avaliar atuação de policiais, classificada até agora como 'desastrosa'

AFONSO BENITES
ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO

O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, proibiu que a Polícia Militar utilize bombas de efeito moral e balas de borracha para dispersar usuários de droga na cracolândia.

"Mandei que eles [policiais] nem levem esses armamentos para lá. Em caso de extrema necessidade, só poderão usar gás pimenta."

A decisão, segundo ele, foi tomada após reportagem da Folha, anteontem, que mostrou policiais lançando bombas e atirando balas de borracha contra cerca de cem usuários de droga que se concentravam na cracolândia.

Essa ação será investigada pelo Ministério Público Estadual, que abriu ontem um inquérito civil para apurar a operação, iniciada no dia 3.

O defensor Carlos Weis, coordenador do núcleo de direitos humanos da Defensoria Pública, disse que precisam acabar as intervenções para dispersar moradores de rua reunidos pacificamente na região central. Weis diz que o correto seria os policiais circularem pela área e prender quem estiver consumindo crack ou traficantes.

O desembargador Antonio Carlos Malheiros, coordenador da Infância e Juventude do Tribunal de Justiça, diz que a polícia não deveria usar armas. Para ele, os usuários não têm estrutura física para criarem resistência aos PMs.

A investigação do Ministério Público vai apurar ainda quem determinou que a operação começasse antes da inauguração do Complexo Prates, centro de acolhida de usuários em construção no Bom Retiro, bairro vizinho.

Quatro promotores disseram que a ação foi "desastrosa" e "boicotou" um trabalho feito desde 2009 nas áreas de saúde e assistência social.

"O Estado não pode ser algoz do cidadão", disse o promotor Eduardo Valério, referindo-se à estratégia de deixar o viciado sem droga e, assim, obrigá-lo a buscar ajuda.

Ontem, pelas redes sociais, internautas anunciaram um "churrascão da gente diferenciada" na cracolândia. O evento está sendo convocado para a rua Helvétia, esquina com a alameda Dino Bueno, às 16h de sábado que vem.

TROPA DE ELITE

A Rota, tropa de elite da PM, passou ontem a integrar a operação. Com isso, o número de policiais militares na nova fase da intervenção passa a ser de 287 -152 deles da Rota-, pouco mais que o dobro do efetivo até ontem.

Segundo a PM, a segurança foi reforçada em bairros como Bom Retiro, Santa Cecília e Higienópolis, para evitar que usuários se aglomerem em bairros próximos.

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