Lhama doméstica causa frisson em área nobre de SP
Animal pertence a sócio do cantor Seu Jorge; Ibama libera sua criação e comercialização
"Que bicho é esse?", pergunta-se o executivo Fábio Pimentel ao ver passar pela calçada uma lhama, enquanto atravessa a avenida Brasil, dirigindo rumo ao trabalho.
Ele pensa que é um pedaço de sonho que retorna durante a monotonia do trânsito matinal paulistano na via nos Jardins (zona oeste de São Paulo). Mas não é.
Fotografa e envia a imagem a uma amiga com a mensagem: "Acho que vi um homem levando uma lhama, de coleira, para passear".
O animal é de verdade e costuma flanar pelo bairro durante a semana.
A lhama já apareceu até no programa da apresentadora Ana Maria Braga e causa espanto entre motoristas, pedestres, crianças e guardas que vigiam as grandes casas das redondezas.
"A ema!", exclama um vigia de dentro de sua guarita, referindo-se ao animal, que para ele "parece um camelo".
No entorno da igreja Nossa Senhora do Brasil, onde se reúnem os cães de estimação dos vizinhos, passeadores preferem não arriscar.
"Aquele bicho lá" é a expressão mais usada para descrever o animal.
O dono da lhama, o empresário Dinho Diniz, sócio do cantor Seu Jorge no bar Karavelle, não quis falar com a reportagem sobre o "pet".
Abordado pela Folha, o passeador do animal também não quis conversa. Respondeu apenas a palavra "Amora" ao ser questionado sobre o nome do bicho. E seguiu acompanhando o trote.
Na barraca de frutas da esquina da casa de Diniz, o vendedor esbanja fotografias do animal em seu celular.
Orgulhoso, o comerciante exibe um belo close em que a lhama aparece e, como se não bastasse, carrega no dorso um pequeno macaco.
O empresário é conhecido pela afeição por animais.
Amora não lembra --nem de longe-- aquelas lhamas de pelos embaraçados que esperam os turistas em Machu Picchu, no Peru.
A lhama dos Jardins parece ter sido cuidadosamente penteada antes de sair por aí, arrastando olhares surpreendidos pelos asfaltos do bairro nobre de São Paulo.
ORNAMENTAL
De origem andina, a lhama é mais comumente criada em países como Peru e Bolívia, onde pode servir para corte de lã e alimentação.
No Brasil, é vista como "animal ornamental", diz o zootecnista Fabio Hosken.
"Não é silvestre. É domesticável, como cachorro. Qualquer um pode criar, desde que tenha espaço. É dócil e, se acostumada desde pequena, fica mansa. Se criar no pasto, fica mais arisca, dá coice", afirma Hosken.
A lhama é considerada animal doméstico, de acordo com o Ibama, que dispensa autorização para sua criação ou comercialização.
Elas precisam tomar vermífugo e ser vacinadas contra a febre aftosa. Alimentam-se de rações para bovinos ou equinos. Não cheiram mal nem fazem barulho.
O único incômodo que causam é o péssimo hábito de cuspir eventualmente, registra o zootecnista.
Um animal adulto custa em torno de R$ 4.000, segundo Fabio Hosken.
Apesar de terem se adaptado muito bem ao clima brasileiro, as lhamas ainda não têm presença consolidada no país. Já nos Estados Unidos, o mercado ultrapassa os 100 mil animais, de acordo com dados do International Lama Registry, entidade que reúne estatísticas sobre a criação.